Há, entre os petistas, uma repulsa a todo tipo de protesto.
O motivo é que eles imaginam que manifestações possam atrapalhar a caminhada de Dilma rumo ao segundo mandato.
Em junho, a popularidade de Dilma desabou momentaneamente no rastro dos protestos desencadeados pelo movimento Passe Livre.
Na confusão que se seguiu, Marina emergiu como um nome forte nas pesquisas, e o favoritismo de Dilma chegou a balançar, por alguns dias ou semanas.
O temor é que o mesmo ocorra à véspera das eleições, com consequências imprevisíveis. Dilma teve tempo, depois de junho, para se reerguer. Perto das eleições, pode não ter.
Daí a protestofobia do PT.
Mas é preciso entender: isto é um problema do PT.
Para quem não milita no PT, as coisas são bem menos dramáticas quando se trata de manifestações.
Você pode dividi-las em duas: as que clamam por avanços sociais. Elas nascem de jovens de esquerda que não têm vínculo com o PT. Melhor, que não se sentem representados pelo PT.
Há também as que batem no chavão da corrupção. Estas são, em geral, desprezíveis. Não mobilizam ninguém, e os poucos participantes são exemplos clássicos dos analfabetos políticos.
Entre os dois extremos, há protestos que não podem ser identificados nem como de esquerda e nem como de direita. Os protestos contra a Copa são uma amostra.
Eles são absolutamente legítimos. Não há impedimento moral de nenhuma espécie para que as pessoas mostrem desagrado com a Copa.
É muito dinheiro envolvido, e é péssima a imagem da Fifa. E a da Globo, que é uma espécie de sócia da Copa, com a qual fatura bilhões? O caso notório de sonegação da Globo está ligado, aliás, a uma Copa, a de 2002.
Muitos fatos que cercaram a Copa foram também lamentáveis, como a remoção de pessoas pobres cujas casas foram destruídas sumariamente por conta de obras.
Há, ainda, a questão financeira propriamente dita. Faz sentido gastar tantos recursos?
Nesta semana, a Suécia anunciou formalmente que desistiu de ser sede das Olimpíadas de 2020. O Parlamento desconfiou das contas apresentadas pelos defensores do projeto. Achou que a projeção de receitas estava inflada e a da despesas subestimada.
Sendo assim, os suecos decidiram que existem outras prioridades para investir o dinheiro público.
A contabilidade brasileira está longe de ser convincente. A desconfiança em relação a ela é um dos elementos que estão por trás das manifestações.
É verdade que os conservadores tentam pegar carona em protestos, quaisquer que sejam. Mas isso não retira a legitimidade de muitos deles.
Desqualificá-los, descontada a paixão partidária, é um erro. Muito mais útil é tentar compreendê-los.
As Jornadas de Junho expressaram o descontentamento com a política de cambalachos que se instalou no Brasil em nome da governabilidade.
Seis meses depois, o que mudou, efetivamente? A blindagem petista à família Sarney no Maranhão mostrou que nada mudou.
Se nada mudou, como esperar que não haja manifestações?