Quem pode chegar perto de Lula. Por Moisés Mendes

Atualizado em 1 de maio de 2021 às 8:15
Lula (Nelson Almeida/AFP)

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

Está de volta o debate sempre previsível em véspera de eleição, mas agora com novas circunstâncias, novas abordagens novos riscos. Como será o alargamento da base de apoio de sustentação da candidatura de Lula em 2022?

E aí vem sempre junto a dúvida sobre os limites dessa base. Que não pode ser só de esquerda, mas também não pode ceder demais nas concessões de apoio do centro e da direita ditas democráticas.

Líderes das esquerdas deixaram de falar só recentemente em uma frente que fosse “das esquerdas” para devolver o PT ao poder.

A Frente Ampla, que governou o Uruguai por 15 anos, desmontou a histórica disputa entre colorados e blancos sem se anunciar nunca como uma frente só de esquerdas, mesmo que fosse basicamente isso.

Pouco antes de morrer, em dezembro, o ex-presidente Tabaré Vázquez informou que trabalhava num projeto de ampliação da base da Frente Ampla. Para que se adequasse aos novos tempos e fosse, quem sabe, menos de esquerda.

Aqui, não há como pensar em alargamento dessa base sem começar pelos nomes, muito mais do que pelos partidos.

Por exemplo. Rodrigo Maia, consagrado como liderança do DEM, é assimilável às esquerdas, mas seu partido nunca será.
O partido pode até ser aceito em alianças paroquiais, mas nunca, é claro, em um projeto nacional.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz o que deve dizer. Que alianças dependem de compromissos com programas e projetos.

Alianças dependem basicamente de nomes que conduzam siglas e grupos, ou alguém imagina que qualquer sigla dita de centro (não vale nem o MDB) pode oferecer alguma consistência de princípios à formação de uma frente? Só a sigla? Nunca.

É inútil raciocinar a partir dos partidos. E vamos então para as hipóteses, considerando-se as novas e as antigas possiblidades.

Rodrigo Maia pode? Mas poderá como? Geraldo Alckmin também? Mas se trocar de partido e deixar de ser tucano? Se for para o PSB? Marta Suplicy poderia, pela força eleitoral, ou Marta nunca mais?

Renan Calheiros é quase certo que pode? O Centrão seria aceito incondicionalmente? Ou dito de outra forma: é possível não pensar no Centrão?

Mas como evitar a repetição de gente da direita clássica do tipo Geddel Vieira Lima? E um Delcídio do Amaral, um Marcelo Crivella?

Não que se pense neles mesmos, que afundaram em pântanos, mas em algo parecido. Como afastar gente aparentada com essa gente inconfiável de perto de Lula?

Como eliminar o risco de uma aliança ter de ceder espaço e cargos a turmas semelhantes às facções de um Moreira Franco ou de um Edison Lobão?

Onde está o centro que poderia se diferenciar hoje do centro dos tempos de Lula e Dilma, ou talvez nem tenha como ser diferente?

Gente parecida com Guilherme Afif Domingues pode? Mas podem também os assemelhados a Eliseu Padilha? Certamente não podem.

Luciano Huck poderia, num amplo leque de enfrentamento de Bolsonaro? Mas só num segundo turno? É preciso pensar em alianças da arrancada, já no primeiro turno, e da chegada, no segundo.

E os empresários? E os banqueiros que abandonarem Paulo Guedes e Bolsonaro? São boas perguntas, complexas para cabeças comuns, mas não para a cabeça de Lula.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/