Capitã Cloroquina, que seguiu ordem de Pazuello, não agiu sozinha na crise que matou milhares em Manaus

Atualizado em 6 de maio de 2021 às 8:00
Pazuello e Cascavel

Conhecida como “Capitã Cloroquina”, a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, jogou gasolina na fogueira em que arde o general e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na CPI da Covid.

A médica cearense confirmou, conforme o jornal O Globo, que foi a responsável pelo planejamento de uma comitiva de médicos que difundiu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 em Manaus dias antes de o sistema de saúde do Amazonas entrar em colapso, em janeiro último.

Não sem antes dizer ao Ministério Público Federal do AM ter atuado por delegação de Pazuello.

O depoimento foi dado numa ação por improbidade administrativa envolvendo outras cinco pessoas por conta da ação dos governos estadual e federal durante a crise no sistema de saúde do estado.

Mayra não atuou sozinha cumprindo as determinações do general. Ela trabalhou em conjunto com Airton Soligo, responsável pela articulação política do ministério.

Ex-deputado, conhecido como “Cascavel”, Soligo chegou a ceder sua casa na capital do Estado para servir de QG da crise.

Se identificava como “assessor direto de Pazuello” e viajava para reuniões nos estados para dar ordens sobre as ações de combate à pandemia.

Na ação movida pelo MPF, os procuradores alegam que Pazuello e o secretário de Saúde do Amazonas ‘atuaram sabidamente às cegas’ durante a crise.

“Ao omitir-se, o ex-ministro sabia da situação calamitosa da rede de saúde no Amazonas, seja em virtude da maior incidência da pandemia no estado, seja pela desorganização administrativa que, como se expôs, já havia sido constatada pelo próprio Ministério da Saúde, por meio do DENASUS e da comitiva chefiada por MAYRA PINHEIRO. Ademais, sendo oriundo do Amazonas e tendo exercido função militar no estado, também conhecia detalhadamente as grandes dificuldades logísticas a serem enfrentadas em caso de desabastecimento, o que implicava a necessidade de dimensionar com antecedência as demandas por produtos que não pudessem ser eficientemente transportados pela via aérea”, apontou a Procuradoria.

A prescrição ilegal do coquetel à base de cloroquina, ivermectina e azitromicina causou milhares de mortes no Estado e chocou o país após a  morte de uma paciente com Covid-19 tratada com hidroxicloroquina nebulizada.

Mayra e Cascavel ainda não foram convocados para depor na CPI, mas são elementos chave para a elucidação do caso que pode levar ao pedido de impeachment de Bolsonaro, por omissão e por estimular o charlatanismo na maior crise sanitária da história do país.

Não por acaso, Pazuello foge.

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo