Milhares se manifestam contra passaporte sanitário na França e centro de vacinação é vandalizado

Atualizado em 17 de julho de 2021 às 22:39
Manifestantes contra o passaporte sanitário, neste sábado, 17 de julho de 2021, em Paris. AFP – BERTRAND GUAY

Originalmente publicado em RFI

Milhares de pessoas voltaram a se manifestar no sábado (17) em várias cidades da França contra o passaporte sanitário e a obrigação da vacina para profissionais da saúde imposta pelo governo francês. Um centro de vacinação no sul do país foi vandalizado.

O passaporte sanitário será obrigatório a partir de 21 de julho em lugares de lazer e culturais como museus e shows com mais de 50 pessoas. A partir de agosto, o documento será exigido também em cafés, bares, restaurantes, trens, aviões, ônibus inter-regionais, shoppings, casas de repouso e estabelecimentos médicos.

Protestos contra a medida foram organizados em algumas cidades francesas neste sábado.

Em Paris, os manifestantes se reuniram nas proximidades do museu do Louvre. Entre eles, representantes de partidos de extrema-direita e do movimento dos coletes amarelos. “Eu nasci em Portugal, durante a ditadura de Salazar, eu não quero reviver isso”, disse Fernanda, de 53 anos. “Nós não somos todos antivacina. Queremos apenas que cada um tenha a liberdade de escolher”, disseram Aurélie e Tiphaine, funcionárias de uma shopping na periferia de Paris.

No leste do país, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, em Metz, onde 2.000 pessoas protestaram. Em Reims, os manifestantes gritaram slogans como “Liberdade!” e “Não ao passaporte sanitário”. Os manifestantes também pediram a demissão do presidente Emmanuel Macron. A circulação foi interrompida no centro da cidade.

No oeste da França, outras manifestações aconteceram em La Rochelle e Limoges. Em Lille, no norte, os manifestantes fizeram referências à Segunda guerra mundial. Uma manifestante que usava uma estrela de Davi explicou que  “não é uma referência à Shoah, mas às discriminações contra os judeus. Aliás, ela não é amarela, mas azul”. Outros manifestantes compararam a política sanitária do governo a um “IV Reich”.

Em Chambéry, no sudeste, próximo à fronteira com a Suíça, os manifestantes denunciaram “a ditadura” que se organiza, segundo eles, através da imposição das novas restrições, principalmente a exigência do passaporte sanitário em restaurantes, cafés e museus.

Em Toulouse, no sul, pelo menos 4.000 opositores do passe sanitário, entre eles, figuras emblemáticas do movimento dos coletes amarelos, protestaram nas ruas da cidade, apesar da proibição de manifestações impostas pela prefeitura. Alguns manifestantes denunciaram o que consideram um “apartheid sanitário”.

Ataque a centro de vacinação

Um centro de vacinação contra a Covid-19 de Lans-en-Vercors, cidade de 2.664 habitantes, no departamento de Isère, próximo à fronteira com a Itália, foi vandalizado e destruído na noite de sexta-feira (16). O prédio do Serviço de turismo da cidade vizinha Villard-de-Lans, de 4 239 habitantes, também foi pichado com frases contra a vacina.

“Atos desprezíveis, horríveis”, cometidos por antivacinas, segundo o prefeito de Lans-en-Vercors, Michel Kraemer.

O centro de vacinação foi instalado na sala de festas da cidade que se localiza em uma região montanhosa e turística da França, e deveria começar a aplicar as primeiras doses neste sábado.

Os responsáveis pelo ataque, abriram os sistemas de incêndio do prédio que foi totalmente inundado. Além disso, as paredes foram pichadas com slogans antivacina, alguns utilizando a cruz da Lorena associada à letra V, símbolo patriótico usado pelos Resistentes durante a Segunda guerra mundial. Seringas e compressas estocadas no local para a vacinação foram destruídas.

“São nossos filhos, os deste município, que vão pagar a conta desta idiotice. As pessoas que fizeram isso confundem tudo”, se indignou o prefeito de Lans-en-Vercors. “Nosso orçamento já é apertado e agora esta sala, que é utilizada pelas associações locais, está totalmente inutilizável”.

Um sentimento compartilhado pelo diretor do escritório de turismo de Villard-de-Lans, Fabrice Mielzareck. A fachada do prédio, renovada recentemente, amanheceu pichada com frases como “pensem em seus filhos”, “vacina genocida” ou ainda “RNA perigo”. O lugar também seria usado como apoio para a vacinação.

A polícia abriu uma investigação sobre o ataque.