
Arthur Lira, de forma indireta, fez sua maior crítica a Bolsonaro em artigo publicado no Globo nesta terça, 24.
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O presidente da Câmara, aliado do mandatário, já havia lavado as mãos na votação do voto impresso. Agora se manifesta para combater qualquer ideia de golpe e criticar a desavergonhada postura de não confirmar aquilo que acabou de espalhar nas redes.
Leia o artigo:
Sou cristão-novo neste mundo on-line. Apanhei muito mais do que pude rebater ou atacar e até hoje sigo um aprendiz no que se refere às redes sociais. É um território onde os ataques acontecem por vezes sem rosto; de outras, automatizados e em massa, dando ao emissor a covarde vantagem de uma ação apócrifa ou mesmo de ganhar coragem diante de um alvo que está distante na vida real, mas a apenas um clique no celular ou computador.
Claro que a democracia ganhou com o virtual — facilitando a participação, o engajamento e o debate. Recrimino apenas aqueles que não têm a firmeza para repetir ao vivo, cara a cara, olho no olho, o que dizem no mundo virtual. Quando isso acontece, ultrapassamos limites da civilidade e do convívio harmônico. É da democracia manifestar-se, divergir e debater — mas a capacidade de mobilização da internet não pode ser refúgio para bater abaixo da linha da cintura. Mesmo protegidos por uma bolha cibernética, o que se diz entre bits e bytes repercute de maneira concreta.
As cordas foram esticadas nessa realidade paralela, de faz de conta, de demasiada retórica e virulência que, tenho certeza, não é sustentada na relação diária, física, nos palácios, sedes dos Poderes, sindicatos, associações e confederações de todas as áreas — terreno onde a sociedade civil se articula e prospera. Não podemos deixar que essa movimentação de vídeos, gifs, memes e posts substitua a altivez e a nobreza da boa política que constrói e promove avanços.
Mas, infelizmente, isso tem impactado o dia a dia de um país (e de um mundo) que se arrasta para sair do pior flagelo desde a Segunda Guerra Mundial e da Grande Depressão. Mesmo nesse cenário, quero e preciso começar mais uma semana legislativa focada na intensa pauta da Câmara. Essas são minha meta e meu compromisso com meus pares e com o país.
Meme não enche barriga
Porque é nesta vida real do Parlamento que seguimos discutindo as reformas — em especial, a tributária e a administrativa — e onde demos passos decisivos nas privatizações da Eletrobras e dos Correios. No primeiro trimestre, atuamos e pressionamos com firmeza para que o Brasil tivesse condições de ter um estoque de vacinas seguro para preservarmos vidas e retomarmos a economia. Agora, vamos nos debruçar na necessária construção do Auxílio Brasil.
O embate das redes e das trocas de notas oficiais com afirmações e desmentidos não ajuda a encher barriga, não apoia ou acolhe quem precisa, não gera postos de trabalho, não baixa o preço do gás de cozinha ou gasolina, muito menos acelera os números de brasileiros vacinados. São essas as genuínas demandas daqueles que nos elegeram. E que nos julgarão nas urnas no ano que vem.
Esses problemas legítimos só são enfrentados com diálogo e articulação. E, movido pela vontade de resolvê-los ou mitigá-los, refuto qualquer possibilidade de aventura contra a democracia, destacando que a liberdade de expressão deve estar a favor de uma reconstrução nacional, e não de ataques vis. Só assim conseguiremos tratar daquilo que importa para o cidadão de carne e osso, nas grandes cidades, no sertão, no Norte muitas vezes esquecido e até no pujante cinturão do agro: a fome, a falta de oportunidades e a assistência social e de saúde fundamentais para que cada um tenha acesso a seus direitos básicos.