Prefeita de Paris que declarou Lula cidadão de honra anuncia candidatura à presidência da França

Atualizado em 12 de setembro de 2021 às 11:02
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo

A prefeita de Paris Anne Hidalgo anunciou neste domingo sua candidatura oficial pelo Partido Socialista à presidência francesa. Ela quer ser a primeira mulher a dirigir o país.

“Sob nossos olhos, o modelo republicado se desintegra. Humildemente, consciente da gravidade do momento e para fazer de nossas esperanças a realidade de nossas vidas, decidi ser candidata à presidência da República Francesa”, disse em comício realizado na cidade de Rouen, capital da Normandia, no noroeste do país.

Um dos eixos de sua campanha é o combate à desigualdade. Dobrar o salário dos professores, um dos mais baixos da Europa ocidental, é uma das promessas. Um aumento salarial geral de 15% também integra seu programa. “São os invisíveis (cuidadores, caixas, etc.) que todos os dias do ano fazem funcionar a sociedade”.

A transição ecológica é outro eixo. “Uma transição que não seja em detrimento das classes médias e das categorias populares”.

Outro eixo de campanha é descentralizar a administração francesa, uma das centralizadas do continente. “Uma República mais próxima dos cidadãos, com os cidadãos”.

O lançamento de sua candidatura já incomoda a extrema direita, cujos militantes tentaram perturbar o ato com gritos monarquistas.

Primeira mulher a administrar a cidade de Paris, cidade que governa há 7 anos, Anne Hidalgo foi reeleita nas últimas eleições municipais, realizadas em junho de 2020.

A defesa de pautas ecológicas como a priorização do uso de bicicletas na cidade pelo aumento de ciclovias foi uma das marcas de sua gestão, principalmente ao longo da crise sanitária.

Uma votação interna deve ocorrer no fim do mês no Partido Socialista para formalizar a candidatura da prefeita parisiense.

Anne Hidalgo tem 62 anos, nasceu na Espanha e cresceu em Lyon, no sudeste da França.

Filha de imigrantes espanhóis, ela obteve a nacionalidade francesa aos 14 anos.

“Em Rouen, uma cidade de história e de trabalho, eu vim falar da França. Eu, uma mulher francesa que chegou aqui aos 2 anos. Meu pai, operário, minha mãe costureira, meu avô, um republicano espanhol”, lembrou.

Mestre em ciências sociais do trabalho pela universidade Jean-Moulin-Lyon III, foi uma das raras mulheres em 1982 a ser aprovada no concurso nacional de inspeção do trabalho.

Em outubro de 2019, quando Lula ainda estava preso, Anne Hidalgo lhe concedeu o título de cidadão honorário de Paris pelos programas sociais do ex-presidente e por ter sido privado de liberdade para continuar seu ativismo.

Livre um mês depois, Lula recebeu a honraria das mãos da prefeita em março do ano seguinte na capital francesa.

Anne Hidalgo é uma das três candidatas à esquerda já anunciadas. Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa, foi o primeiro a fazer o anúncio este ano. Fabien Roussel, do Partido Comunista, o segundo. O partido ecologista realiza uma primária para definir a sua candidatura.

Num cenário incerto e fragmentado tanto à esquerda quanto à direita, Anne Hidalgo tem entre 7% e 9% das intenções de voto. Figuram em primeiro lugar no primeiro turno o atual presidente Emmanuel Macron, com 26% das intenções de voto, e Marine Le Pen (extrema direita), com 25%.

O Partido Comunista pode renunciar à sua candidatura e apoiar a prefeita de Paris, já que o PCF faz parte da coalizão que administra a capital do país. A esperança do PS é que os ecologistas entrem em um acordo com Anne Hidalgo para apoiar sua candidatura.

As próximas eleições presidenciais francesas estão marcadas para abril de 2022.

No dia 2 de março de 2020, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu da prefeita Anne Hidalgo o título de cidadão honorário de Paris. Foto: Ricardo Stuckert
Willy Delvalle
Mestre em Sociologia e Filosofia Política pela Universidade Paris 7. Formou-se em Comunicação Social: Jornalismo na Unesp. Em São Paulo, foi professor voluntário de português a imigrantes e refugiados. Atualmente, cursa mestrado em União Europeia e Globalização na Universidade Paris 8