A histeria em torno do decreto que institui a Política Nacional de Participação Social

Atualizado em 6 de junho de 2014 às 19:10

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Os mecanismos de participação e controle social no Brasil parecem assombrar boa parte das bancadas de parlamentares na Câmara dos Deputados.

A revolta tem origem no decreto publicado na semana passada pelo executivo que institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), que criam nove canais de comunicação visando regularizar a relação do governo com a sociedade civil. Segundo a proposta, os integrantes de futuros conselhos populares não serão remunerados.

Estimulados pela mídia, juristas e ex-ministros atacaram a iniciativa da presidente Dilma chamando a proposta de “bolivariana”, “ditatorial” etc. Mas a proposta é muito mais um desdobramento das Conferências sobre Transparência e Controle Social de 2012 do que um desejo solitário de Dilma.

Capitaneado pelo DEM, mais nove partidos pretendem revogar o projeto. São eles: PPS, PSDB, PR, PSD, SOLIDARIEDADE, PRB, PV, PROS e PSB.

Afinal, o que temem os parlamentares? O decreto “rasgaria a Constituição”,  uma vez que a representatividade popular se dá por meio das eleições e são eles os representantes da população uma vez que os votos recebidos lhes outorgam tal condição.

O ministro Gilmar Mendes, ao corroborar essa tese, afirmou que “o grande afetado em termos de legitimidade de imediato é o Congresso”. Outra declaração igualmente caricata é a do ex-ministro da Justiça Miguel Reale, de que a presidente “ganha diálogo com os movimentos sociais”.

Está aí a oportunidade para que outras frentes políticas, seja qual for sua orientação, façam o mesmo: ganhem diálogos com seus movimentos e incentivem ou oportunizem que suas militâncias saiam da clandestinidade interna. Em muitos casos esses “ativistas” são puras invencionices partidárias.

No verdadeiro front deste embate está implícito o temor que as elites têm em abrir espaços para discutir com a população; é como se o andar de baixo necessitasse dessa concessão. Ignoram, escarneiam e abusam de mandatos parlamentares para manter a distância entre as classes sociais.

O francês Èmile Durkeim abordou em sua tese “De la Division Du Travail Social” que a existência de uma sociedade só é possível através de um determinado grau de consenso de seus indivíduos. Não por acaso é exatamente na França que vem um dos maiores exemplos deste conceito: Angers.

Conheci a cidade de Angers nos início dos anos 90. Com 150 mil habitantes, a cidade dispõe de um dos mais importantes mecanismos de controle e participação social que se tem notícia.

Possui mais de 1500 ONG’s que trabalham para aprimorar o processo de controle social sobre políticas públicas e prestação de contas naquilo que se convencionou chamar de gestão compartilhada.

Mas para essa gente que conspira contra o decreto da presidente a França é um dos melhores destinos para se passar as férias. E, infelizmente, apenas isso.

Mário Luiz Cortes
Pesquisador, líder popular, foi dirigente da CONE, Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (PMSP) em São Paulo