“Indulto é o ato mais grave de agressão à democracia cometido por Bolsonaro”, diz o jurista Lenio Streck

Atualizado em 21 de abril de 2022 às 19:40
Bolsonaro na live em que decretou indulto a Daniel Silveira

O jurista Lenio Streck, um dos mais renomados do Brasil, comentou o perdão concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, condenado pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão, em regime inicial fechado, por ataques aos ministros da corte.

A medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial e o presidente anunciou-a numa live nesta quinta. Segundo o sujeito, a liberdade de expressão é “pilar essencial da sociedade” e a sociedade encontra-se em “legítima comoção”.

“A graça de que trata esse decreto é incondicionada e será concedida independente do trânsito em julgado [da ação]”, disse.

Os ministros do Surpremo consideram a medida inconstitucional.

“Foi o ato mais grave de agressão à democracia cometido pelo presidente Bolsonaro. Atravessou o Rubicão, foi, voltou e atravessou de novo. Pisoteou”, diz Lenio.

“Ao conceder a graça ao deputado, Bolsonaro ofende o STF. Há nitido desvio de finalidade. Ultrapassou o limite da separação de poderes. Se o STF decidiu quais os atos que ferem a democracia e a própria corte, não pode ser o presidente da República que se arvorará no intérprete do intérprete”.

“O presidente não é o superego da nação. Há abuso de competência. Quem guarda a Constituição Federal é o STF. Não o presidente da República”, afirma.

“O Brasil dá pessimo exemplo ao mundo. Só reis absolutistas agem desse modo. Mas ainda há STF no Brasil. Deve haver. Para conter esse abuso.”

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.