Por que Elon Musk vai transformar o Twitter em um Velho Oeste libertário

Atualizado em 27 de abril de 2022 às 11:17
Elon Musk comprou o Twitter

Por ERIC POOLE

Mesmo sob as melhores circunstâncias, as postagens e discussões em redes sociais geralmente se transformam em algo parecido com a descrição de Obi-Wan Kenobi sobre Mos Eisley, cidade do universo de Star Wars – “uma colmeia miserável de escória e vilania”.

A aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões pelo magnata da tecnologia Elon Musk, finalizada na segunda-feira (25), provavelmente não trará as melhores consequências. No período que antecedeu a compra da plataforma por Musk, ele prometeu torná-la uma zona de liberdade de expressão, livre de verificação de fatos e bloqueio de contas.

Uma opinião popular é que Musk restabelecerá a conta do ex-presidente dos EUA Donald Trump, que foi banido do Twitter e do Facebook após o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA.

Trump disse na segunda que se juntaria à sua própria rede social, o Truth, na próxima semana, de acordo com a Fox News.

“Espero que até meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que significa liberdade de expressão”, tuitou Musk no mesmo dia, enquanto seus representantes elaboravam os detalhes do acordo.

O Twitter está prestes a se tornar o Velho Oeste com um libertário como xerife.

Há motivos para otimismo e pessimismo nos pronunciamentos de Musk quando ele assumiu o controle da plataforma e a designou como uma entidade privada.

Do lado do otimismo, Musk disse que planeja transformar a programação de código aberto do algoritmo do Twitter. Idealmente, isso significa que qualquer pessoa com conhecimento tecnológico suficiente poderia saber como a rede social toma decisões sobre a exclusão de comentários ou a suspensão de contas.

Em uma visão mais pessimista, apesar de toda a postura de Musk sobre ser um “absolutista da liberdade de expressão”, ele nem sempre honra esse princípio com sua própria conta no Twitter.

“O próprio Musk bloqueia regularmente usuários de mídia social que o criticaram ou a sua empresa, além de já ter usado a plataforma para intimidar repórteres que escreveram artigos críticos sobre ele ou sua empresa”, informou a Associated Press.

O homem mais rico do mundo disse que planeja pautar-se pela liberdade de expressão, mas pode perceber que um Twitter onde reina o absolutismo da liberdade de expressão deve se tornar um ambiente pesado.

Pode parecer estranho um jornalista argumentar contra a liberdade de expressão, mas nenhum dos nossos direitos constitucionais é absoluto, nem mesmo a liberdade de expressão.

Para citar o exemplo clássico, não temos o direito de gritar “Fogo!” em um teatro lotado.

Mas para além dos debates sobre a liberdade de expressão, Musk pode querer adiar a transformação do Twitter em uma praça absolutista da liberdade de expressão. Deixar que todos digam o que quiserem no site provavelmente seria um mau negócio.

As plataformas de mídia social dependem de atrair e reter usuários. Necessariamente, isso significa que eles precisam controlar o conteúdo.

E, como entidades privadas, eles têm esse direito.

Se uma plataforma não puder – ou não quiser – controlar o conteúdo, se a escória e a vilania se tornarem muito pronunciadas, ela corre o risco de invocar a variante da liberdade de expressão da Lei de Gresham.

Esse princípio, desenvolvido no século 16 pelo financista inglês Sir. Henry Gresham, sustenta que as moedas depreciadas tirarão de circulação moedas valiosas porque as pessoas vão acumular as últimas e gastar as primeiras.

O discurso equivalente à Lei de Gresham é que o discurso ruim – bullying, insultos e conspirações – expulsará o bom discurso.

Algumas pessoas usam as redes sociais para buscar conforto. Outros a usam para argumentar, para buscar conflito.

O truque para Musk, ou quem quer que ele contrate para administrar a empresa, será manter esses princípios de liberdade de expressão sem expulsar aqueles que usam as redes para manter conexões.

Nenhuma plataforma de mídia social pode sobreviver sem ambos.

O Twitter precisa de um xerife para seu próprio bem. Mesmo que o cara com o distintivo não pense assim.

Publicado originalmente no Herald