Os superricos escondem 32 trilhões de dólares em paraísos fiscais. (E este é um cálculo conservador)

Atualizado em 22 de julho de 2012 às 11:59
Os paraísos fiscais promovem um inferno nas receitas dos governo

 

Uma elite superrica esconde dinheiro em paraísos fiscais num valor calculado, conservadoramente, em 32 trilhões de dólares, o equivalente ao valor combinado da economia dos Estados Unidos mais a do Japão. Se fosse declarado, esse dinheiro geraria impostos no valor de 280 bilhões de dólares.

No mundo inteiro, esta notícia está dominando os sites de notícias. No momento em que escrevo, pouco mais de três da tarde em Londres, é a matéria mais lida na BBC.

O levantamento é obra de uma organização independente chamada Tax Justice Network (TJN), Rede de Justiça Tributária. A TJN foi fundada na Inglaterra em 2003, e é apartidária. Seu comandante é James Henry, que foi o economista-chefe do colosso da consultoria McKinsey. A TNJ, como se lê em seu site, é fundamente antiparaísos fiscais e pró-transparência.

Reproduzo aqui um comentário postado no texto da BBC, e recomendado por um número expressivo de outros leitores, por considerar que ele representa a voz rouca das ruas na Inglaterra e não apenas nela. “Isso é de conhecimento público há muito tempo. Não haveria crise se os ricos pagassem imposto. Quando o governo vai perseguir este dinheiro em vez de tirar da sociedade benefícios que, comparativamente, são uma migalha?”

Por curiosidade, vi pela manhã um vídeo em que o respeitado jornalista britânico Martin Wolf, comentarista do Financial Times, fala a uma platéia de americanos. “O problema de vocês é que vocês não pagam impostos”, disse ele. Risos nervosos percorreram os ouvintes, que talvez pensassem ser uma piada. Não era. “A receita do Estado com impostos, nos Estados Unidos, equivale a 7% do PIB”, continuou Wolf. “Isso é uma piada. Não dá para sustentar decentemente uma sociedade. Não surpreende que na Europa a expectativa de vida seja maior e a mortalidade infantil menor.”

Wolf não foi preciso apenas numa coisa: o americano comum, o assalariado, paga sim imposto. Quem não paga são os ricos. Foi preciso que um deles, o bilionário Warren Buffett, se insurgisse contra os privilégios dados a seu grupo para que os Estados Unidos despertassem para a questão da justiça fiscal. Num artigo publicado no NY Times, Buffett notou que pagava menos imposto, proporcionalmente, que sua secretária. E clamava à Casa Branca: “Chega de nos mimar!”

Se não provocou efeito nenhum ainda nos Estados Unidos, o brado de Buffett repercutiu na França. Nesta semana, o Congresso francês aprovou uma série de medidas do presidente François Hollande que aumentam o imposto dos ricos.

Alguns milionários franceses vinham ameaçando deixar o país se as novas taxas passassem. Hollande não piscou. Fez bem. Se quiserem partir, boa viagem.

Ricos que não querem pagar imposto são uma receita infalível para arruinar qualquer país. A ausência deles desinfeta a sociedade.

A razão do sucesso extraordinário social da Escandinávia é que lá os ricos entendem que para viver num ambiente saudável eles devem pagar uma taxa alta de impostos.

Lá, ninguém fala em “Custo Suécia”, ou “Custo Noruega”, ou “Custo Dinamarca”, ao contrário de tantos que gritam, por exemplo, contra o “Custo Brasil” — um dos mitos mais perniciosos brasileiros —  apenas para pagar ainda menos imposto e perpetuar a iniquidade social.