“Se Lula ganhar será magnífico”, diz vice da Colômbia

Atualizado em 28 de julho de 2022 às 10:52
Francia Márquez, primeira mulher negra a chegar na vice-Presidência da Colômbia
Foto por: Reprodução / Instagram

Francia Márquez, vice-presidente da Colômbia, se encontrou com o ex-presidente brasileiro Lula (PT) na terça (26/07), em São Paulo. Após o encontro, em entrevista, Márquez reconheceu que a esquerda governará em contexto mundial adverso e disse torcer pela eleição de Lula. Leia alguns trechos abaixo:

A senhora veio ao Brasil e se reuniu com Lula e com diversas lideranças políticas e sociais —nenhuma delas ligada a Jair Bolsonaro. Como vai ser a relação de seu governo, que começa em agosto, com o dele, que fica no cargo pelo menos até dezembro? Eu vim ao Brasil para me reunir com líderes políticos e sociais, tanto do movimento negro quanto de esquerda. Acabo de falar com o candidato à Presidência do Brasil que espero que ganhe as eleições, Lula da Silva. E digo isso porque acredito que Lula é o único presidente que levou em consideração os direitos da população negra no Brasil. Um país em que mais de 50% das pessoas são negras tem que pensar em políticas de governo a favor dessa população. (…)

Brasil e a Colômbia são os dois países da América Latina com a maior população afrodescendente da região. São cerca de 200 milhões de afrodescendentes ou negros, o que exige uma política internacional para lutas contra o racismo. Em segundo lugar, sou a primeira mulher de ascendência africana a ser eleita vice-presidente da Colômbia, em duzentos anos. (…)

Nesse sentido, meu compromisso, além da responsabilidade legal que tenho na Colômbia, é também de impulsionar as lutas dos movimentos sociais negros, dos movimentos indígenas, dos movimentos camponeses, dos movimentos ambientais que ajudam a enfrentar o desafio da crise ambiental, dos movimentos de mulheres por seus direitos à igualdade e justiça. Essa é a razão pela qual vim ao Brasil.

Sobre o governo Bolsonaro: o povo brasileiro votou nele. E respeitamos essa decisão, ainda que não concordemos com as ideias e políticas dele. Temos políticas de compromisso social, e as políticas do presidente Bolsonaro são de outra dimensão. Mas nós o respeitamos porque o povo brasileiro votou nele, e os povos têm autonomia para decidir sobre seu destino.

Há algum temor de que o presidente Bolsonaro não respeite o resultado das eleições brasileiras e haja turbulências? Vocês têm isso no radar? Na Colômbia também enfrentamos o processo eleitoral com muitos receios. Nos últimos dias de campanha, Gustavo Petro e eu precisamos fazer discursos cercados por escudos antibalas por causa das ameaças de assassinato que recebíamos. Foi muito complicado. E esperamos que esse processo no Brasil seja democrático, tranquilo, que transcorra em paz e que os brasileiros tomem a sua decisão.

(…)

A senhora é ambientalista, e a Colômbia compartilha a floresta amazônica com o Brasil. Como vê as políticas do governo Bolsonaro para a região? A Amazônia é compartilhada por Brasil, Peru, Colômbia. E, nesse sentido, é um ecossistema. Um governo que não pensa em conservar ou proteger a Amazônia, reconhecendo que ela é o pulmão do mundo, que grande parte da biodiversidade do ar e da vida é gerada neste lugar, é um fracasso. Conservar e cuidar da floresta é um desafio, sim, para o nosso governo e para o governo do Brasil, frente à crise ambiental do planeta.

A Colômbia elegeu pela primeira vez em sua história um governo de esquerda. Países como Chile, Bolívia e Argentina também têm presidentes desse campo político, o que tem sido visto como uma nova “onda rosa” no continente. Caso Lula não ganhe as eleições, essa onda perderia força? Ficaria mais difícil implantar as políticas que defendem? Se Lula ganhar, seguramente será mais fácil promover essas agendas pois seu governo já tinha começado a adotar políticas de inclusão, de erradicação da fome, políticas para garantir a participação de mulheres.

(…)

Ainda que adverso, assumimos a necessidade de mudanças. E vamos implementá-las, em meio às diferenças e às possibilidades que se apresentam. A Colômbia tem vários desafios, e um deles é chegar à paz. Se alcançarmos a paz completa na Colômbia, toda a região se beneficiará. Estamos buscando um grande acordo nacional.

Vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, e o ex-presidente brasileiro Lula
Foto por: Twitter/Ricardo Stuckert/Reprodução

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