
Fotos: Arquivo pessoal / montagem
O coronel do Exército Ricardo Sant’Anna, excluído pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do grupo de fiscalização do processo eleitoral, se apresenta nas redes sociais como um apoiador nato do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ele integrava a equipe de nove oficiais que, na última quarta-feira (3), começou a analisar o código das urnas logo após o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, enviar um ofício “urgentíssimo” ao TSE com um pedido para que a Corte agendasse o início da análise. O TSE, porém, recusou a participação de Sant’Anna.
As publicações do coronel seguem a mesma linha do discurso reverberado por Bolsonaro e por seus apoiadores. O militar de 47 anos formou-se oficial em 1997 e estava lotado até recentemente no Instituto Militar de Engenharia, o IME.
Nos posts, ele questiona a integridade do sistema eleitoral adotado pelo próprio TSE. Uma de suas publicações chegou a ser marcada como “informação falsa”. O post em questão diz que o ex-presidente Lula (PT) teria roubado um faqueiro de ouro que a rainha Elizabeth II deu em 1968 ao então presidente-general Artur da Costa e Silva.

O militar também chegou a publicar um vídeo em que compara o voto à compra de um bilhete de loteria. No vídeo, um homem pede o comprovante impresso do seu jogo na loteria e fica irritado quando o funcionário diz que ele tem que “confiar no sistema”.
“Pra quem não entendeu ainda a briga contra esse sistema que nenhum país desenvolvido adotou, SÓ NÓS, então, se ainda confia no sistema, é achar que está tudo certo, então aceite a aposta na lotérica do jeito que está nessa sátira… pra despertar o ÓBVIO!!!!”, diz a legenda do post.

Além de defender o voto impresso e desconfiar do sistema eleitoral brasileiro, Ricardo Sant’Anna também reserva espaço para atacar a oposição. Em uma das publicações, o coronel compartilha de forma errônea a frase da ex-deputada Sandra Starling, uma das fundadoras do partido: “Votar no PT é exercer o direito de ser idiota”.

O militar não atacou apenas o PT ou Lula nas redes, em postagem recente ao comentar um texto no qual a presidenciável Simone Tebet, do MDB, defendia que mulheres devem votar em mulheres, ele escreveu de forma misógina e machista nos comentários que “vaca vota em vaca”.
Entre os compartilhamentos, ele repostou uma publicação do deputado federal Filipe Barros, do PSL do Paraná e apoiador Bolsonaro no Congresso, que questionava o direito de “observar se seu voto foi registrado, apurado e totalizado corretamente”.

Após a divulgação da imprensa sobre o teor das publicações feitas pelo coronel em seu Facebook, ele apagou a conta na rede social.
Apesar do baixo nível das publicações do coronel, ele não é apenas uma peça trivial no Exército. Ricardo Sant’Anna é quem assina, por exemplo, um ofício enviado ao TSE no final de junho desde ano pedindo uma série de arquivos relacionados às eleições de 2014 e 2018.
Entre as informações que foram solicitadas pelas Forças Armadas estavam imagens dos boletins com a totalização dos votos de cada seção eleitoral, arquivos de registro digital e os logs das urnas eletrônicas.
O ofício assinado pelo presidente do TSE, Edson Fachin, e pelo vice-presidente do tribunal, Alexandre de Moraes, informa a exclusão do militar do grupo de fiscalização do processo eleitoral. A inspeção realizada pelos militares no código-fonte das urnas eletrônicas deve prosseguir até o próximo dia 12.