O significado do presente do MST a Renata. Por Nathalí

Atualizado em 27 de agosto de 2022 às 9:15

Por Nathalí

A repercussão da entrevista de Lula ao Jornal Nacional foi muito além dele mesmo. o Movimento Sem Terra, por exemplo, depois de ter sido citado por Renata Vasconcellos e ferrenhamente defendido pelo futuro presidente, virou assunto mais uma vez nas redes sociais. “Qual foi a terra produtiva que o MST invadiu?”, perguntou Lula, diante dos entrevistadores atônitos.

“Às vezes penso que estão fazendo favor aos latifundiários, ocupando terras improdutivas para o governo pagar”, completou. Renata e Bonner, fiéis aos princípios da empresa para a qual trabalham, mantiveram o discurso que criminaliza o Movimento, discurso este que foi, entre outros tantos infelizes, um dos responsáveis pelo antipetismo no Brasil e pelo horror da classe média a um comunismo fantasma.

Renata chegou a dizer – amada?! – que o meio ambiente e agronegócio andam juntos – e isso não é apenas burrice, como supuseram os memes a respeito: esta é a mensagem da Globo, dentro e fora do período de campanha eleitoral. “Agro é pop, agro é tudo” ou: nada novo sob o sol. A novidade aqui é como o Movimento Sem Terra reagiu ao momento, com delicadeza constrangedora, ao entregar aos apresentadores, na sede da Rede Globo, produtos da reforma agrária de presente.

Um Movimento criminalizado por anos a fio por uma emissora vai até a sua sede e entrega seus produtos como quem diz: “antes de falar sobre nós, conheça-nos”. O significado deste ato, na atual conjuntura, é gigante. O MST, que a Globo tenta, desonestamente, associar a Lula na intenção de prejudica-lo, tem uma reputação muito melhor do que a própria emissora.

É verdade que são os maiores produtores de arroz orgânico da América Latina, que não ocupam terras produtivas, que – eles sim – caminham lado a lado com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, e o povo brasileiro (exceto a classe média burra) sabe disso. A humildade do Movimento Sem Terra ao querer mostrar aos âncoras do JN a importância de suas cooperativas demonstra, na prática, a resposta à pergunta de Renata a Lula: qual seria o papel do movimento em um eventual novo governo do petista?

Produzir comida sem veneno e sementes não-transgênicas, fazer cumprir a função social da propriedade (preceito constitucional, é sempre bom lembrar), realizar feiras da reforma agrária, sustentar cadeias produtivas como feijão, arroz, leite, café e outros produtos essenciais à dieta dos brasileiros e brasileiras, recuperar biomas – o MST foi premiado no Paraná por recuperação da Mata Atlântica – e tantas outras que aqueles que se recusam a conhecer o movimento jamais saberiam.

“Você tem que visitar uma cooperativa do MST, Renata, e você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais”, aconselhou sabiamente Lula a Renata Vasconcellos. Não precisou: o Movimento foi até ela com uma cesta e uma cartinha: “O MST é um movimento social de luta pelo direito ao acesso à terra com mais de 38 anos de História. Temos que desmistificar as informações que chegam à sociedade brasileira sobre o MST e acreditamos no papel central que cumpre, para isso, uma imprensa livre e comprometida com o desenvolvimento social. Contamos com vocês neste trabalho!”, escreveu Marina dos Santos, dirigente do movimento, em carta que vai junto às cestas.

E completou: “Esperamos que vocês desfrutem dos frutos da luta pela terra que vão com todo nosso carinho nesta cesta!” As definições de tapa em luva de veludo foram atualizadas, e quem sabe agora, conhecendo publicamente o trabalho sério e fundamental do MST, os âncoras do JN demonstrem algum constrangimento ao criminaliza-lo em rede nacional – embora eu o considere improvável. Ao responder com carinho aos ataques costumazes da Globo, o MST acerta em cheio mais uma vez: um recado contra a ignorância e a desinformação, que as propagandas de “agro é pop” veiculadas pela emissora jamais superarão.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.