O debate entre Lula e Bolsonaro e a importância desse ritual. Por Alberto C. Almeida

Atualizado em 28 de agosto de 2022 às 15:46
Lula e Bolsonaro

O cientista político Alberto Carlos Almeida publicou um comentário sobre o debate de hoje na Band entre Lula, Bolsonaro e agregados:

Há muita expectativa em relação a qualquer debate presidencial, porém, raramente nos perguntamos qual a sua importância. A primeira delas é que vivemos em democracias e nos debates os candidatos estão mais expostos a questões duras. 

Isto é útil para conhecermos melhor em quem vamos votar. Contudo, a grande relevância de um debate tem a ver com o ritual. Em um casamento há vários acontecimentos que formam o ritual: a entrada da noiva na igreja, a troca de alianças, a presença dos padrinhos, as juras mútuas, a decoração, etc. Nenhum deles assegura que o casal será feliz até que a morte os separe. 

Ocorre o mesmo em eleições. Trata-se de um ritual formado por vários acontecimentos, nenhum dos quais é capaz de assegurar que elegeremos bons governantes. Um eleição sem debates seria equivalente a um casamento sem troca de alianças, por exemplo. Estaria faltando um elemento importante do ritual. Um dos papéis de ambos os rituais é tornar pública a escolha – da noiva, do noivo e dos eleitores. 

Dito isto, cumpre reconhecer que debates dificilmente mudam o voto e, em outras circunstâncias, mudam a opinião de quem os acompanha. Após os debates vemos com frequência a seguinte afirmação: “Fulano massacrou Beltrano” e vice-versa. Quem diz isso é o apoiador de Fulano e vice-versa. 

O vencedor do debate é sempre o candidato em quem você vai votar. Os psicólogos cognitivos demonstram que argumentos racionais muito dificilmente mudam a opinião de alguém, é exatamente por isso que debates muito dificilmente mudam o voto. Sua importância – enorme – advém de ser peça-chave no ritual.