
Foto: Evaristo Sa/AFP
Muito do que se tem dito sobre os descaminhos de Ciro Gomes nessa campanha eleitoral, sobre sua atuação como cavalo de troia no campo progressista, parece ter se materializado nas últimas pesquisas de opinião.
No Datafolha, Ciro caiu dois pontos e Bolsonaro subiu os mesmos dois pontos; na IPESPE, Ciro caiu um ponto e Bolsonaro subiu exatamente um ponto.
Pode ser coincidência?
Pode.
Mas também pode não ser; a conclusão mais óbvia é que houve o trânsito desses votos entre os dois candidatos anti-Lula. O mais provável é que os eleitores de Ciro, que têm em Bolsonaro sua segunda opção de votos, estão realisticamente praticando o voto inútil.
É de se esperar que, na próxima semana, o eleitores de Ciro que têm Lula como segunda opção façam movimento parecido, mas do voto útil, para evitar o mal maior, a perpetuação do neofascismo milicio-miltio-bolsonarista.
Muitos dos pedetistas do núcleo brizolista já estão declarando publicamente a adesão ao candidato do PT. É natural que pedetistas autênticos, históricos, trabalhistas por convicção, sigam o mesmo caminho, pelo menos é o que a porção sadia da sociedade brasileira espera.
No entanto, cabe uma pergunta: o que será de Ciro no pós-eleição?
Provavelmente Ciro, com sua trôpega vida política, se tornará objeto de estudo de cientistas políticos; já a persona Ciro gerará centenas de teses no campo da psicologia, sobretudo da psicanálise.
Entretanto tenho ouvido, visto e lido nesses últimos dias que Ciro está mirando um bom emprego no setor privado, haja vista ter se esgotado seu protagonismo político por não superar nunca a barreira dos 9%, apesar da insistência.
Não me parece o caminho de Ciro.
É claro que Ciro consegue se empregar numa boa empresa, ter um cargo importante, afinal até o ex-juiz Sergio Moro conseguiu algo parecido.
Mas aí que reside o ponto: ele consegue um “cargo importante numa boa empresa”, mas não consegue “o cargo mais importante numa grande empresa”, daqueles cargos que pagam acima de milhão por mês, com direito a jatinho, helicóptero, bônus, seguranças etc, que é o único lugar onde se alojaria um cidadão conhecido como “professor de Deus”.
Esses cargos “bacanudos” estão reservados para pessoas que sejam discretas, que consigam agregar pessoas e, principalmente, que tenham bom trânsito no governo federal.
O mais alto cargo privado de Ciro foi de diretor-presidente da Transnordestina, empresa de logística da CSN – do bilionário Benjamin Steinbruch -, cujos trilhos estavam assentados no estado do Ceará quando Camilo Santana era governador e Dilma Rousseff era presidenta, ambos do PT.
A interlocução de Ciro com o PT certamente era a sua principal contribuição para a Transnordestina e, também, seu maior valor empregatício.
Ao incinerar, com extrema virulência, todas as pontes com o PT, sua posição de interlocução com um provável governo petista é a útlima senha da fila e, portanto, o “valor de face” de Ciro no mercado dos bons empregos será bem baixo.
Do lado de Bolsonaro, a situação é melhor. Ele tem sido generoso com o presidente, com poucas e superficiais caneladas. Pode ser que Ciro espere que, caso Bolsonaro se reeleja, tenha uma interlocução melhor o que elevaria sua “boa empregabilidade”. No entanto, quem em sã consciência confiaria no Bolsonaro?
Se bem que “sã consciência” não é um atributo que Ciro esteja praticando nos últimos tempos.
A menos que Ciro tenha um bom patrimônio e que ele não o tenha gasto durante a campanha – bom seria que ele tenha juntado mais -, o futuro não lhe será fácil.