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O presidente russo Vladimir Putin anunciou, nesta quarta-feira (21), a mobilização de centenas de milhares de russos para lutar na Ucrânia, alertando o Ocidente de que Moscou usaria “todos os meios” para se defender. Diante da contraofensiva das forças de Kiev, Putin aposta na escalada do conflito.
“Não é um blefe”, insistiu o chefe do Kremlin, acusando os países ocidentais de quererem “destruir” a Rússia e de recorrer à “chantagem nuclear”. Mais uma vez, Putin atacou o Ocidente com virulência, acusando os países aliados aos Estados Unidos de terem “ultrapassado todos os limites em sua política agressiva” e de quererem “enfraquecer, dividir e, em última análise, destruir” o seu país. “Também usam chantagem nuclear”, acrescentou. “Gostaria de lembrar a quem faz tais declarações que nosso país tem vários meios de destruição, alguns dos quais são mais modernos do que os dos países da Otan”, ameaçou o presidente russo.
Após o anúncio, na terça-feira (20) da organização de “referendos” de anexação à Rússia em quatro regiões separatistas da Ucrânia, a partir de sexta-feira (23), Putin considera “necessário apoiar a proposta [do Ministério da Defesa] para a mobilização parcial dos cidadãos na reserva, aqueles que já serviram e que têm experiência relevante”, explicou Putin em seu discurso divulgado pela tevê, esta manhã.
Essas eleições ocorrerão nas regiões de Donetsk e Lugansk, que formam o Donbass (leste), bem como nas áreas ocupadas de Kherson e Zaporíjia, no sul. A doutrina militar russa prevê a possibilidade de recorrer a ataques nucleares se territórios considerados por Moscou como russos forem atacados.
Putin reafirmou que é seu “dever moral” proteger seus habitantes dos “neonazistas” no poder em Kiev. “Aqueles que pegam em armas e defendem o Donbass são verdadeiros patriotas”, declarou o presidente durante o discurso gravado, de cerca de quinze minutos, destinado a mobilizar o seu povo. “Estamos falando apenas de mobilização parcial”, insistiu o presidente, mas os rumores de uma mobilização geral despertam preocupação entre a população russa.
A organização de referendos em áreas separatistas foi imediatamente criticada pela Ucrânia. O presidente Volodymyr Zelensky minimizou a importância desses “pseudo-referendos”. Os países ocidentais também criticaram a medida. Berlim e Paris chamaram os referendos de “fictícios” e Washington de “farsas”.
A votação, semelhante a que formalizou a anexação da península da Crimeia (sul) pela Rússia, em 2014, vem sendo preparada há vários meses. O calendário parece ter acelerado com a contraofensiva ucraniana. Autoridades russas haviam mencionado, anteriormente, a data de 4 de novembro, o dia da unidade nacional russa.
300.000 reservistas mobilizados
O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, informou que 300.000 reservistas são afetados por esta ordem de mobilização para que a Rússia possa atingir os objetivos de sua “operação militar”. Isso equivale a apenas “1,1% dos recursos mobilizáveis”. A Rússia luta “tanto contra a Ucrânia, quanto contra o Ocidente”, afirmou Shoigu.
A ordem para o recrutamento dos reservistas entra em vigor a partir desta quarta-feira. O decreto foi publicado no site do Kremlin.
O embaixador americano em Kiev considerou a medida um “sinal de fraqueza” da Rússia, frente à falta de pessoal para continuar a ofensiva na Ucrânia, que já dura quase oito meses.
Muitos observadores acreditam que o Kremlin subestimou a capacidade de resistência dos ucranianos, motivados e armados pelo Ocidente. O Exército russo sofreu muitas perdas diante das contraofensivas ucranianas nas regiões de Kherson (sul) e Kharkiv (nordeste), onde as forças de Moscou foram forçadas a recuar.
De acordo com Shoigu, o Exército russo perdeu 5.937 soldados desde o início da ofensiva, um número oficial bem acima do anterior, mas bem abaixo das estimativas ucranianas e ocidentais, que relatam dezenas de milhares de mortos.
Novos ataques à central nuclear
No terreno, os combates e os bombardeios continuam. As autoridades ucranianas acusaram a Rússia, nesta quarta-feira, de ter bombardeado novamente a maior central nuclear da Europa. “Terroristas russos bombardearam a usina nuclear de Zaporíjia novamente durante a noite”, disse o operador estatal de usinas nucleares ucranianas, Energoatom, no Telegram. “A taxa de radiação no local está no nível normal” e as “descargas” radioativas no meio ambiente “não excedem os padrões autorizados”, tranquilizou a administração da central.
O bombardeio danificou, contudo, uma linha de energia, causando a paralisação de vários transformadores do reator número 6 da usina. “Mesmo a presença de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não para os russos”, alertou a empresa.
Kiev e Moscou se acusam mutuamente de chantagem nuclear. Na segunda-feira (19), Kiev acusou Moscou de ter bombardeado a usina nuclear de Pivdennooukrainsk, no sul da Ucrânia. No início da invasão, as forças de Moscou também ocuparam a usina de Chernobyl (norte), que foi palco do pior acidente nuclear da história, em 1986. Fechada desde 2000, a usina está localizada em uma área altamente contaminada por resíduos radioativos
BREAKING: Putin declares partial mobilization, the decree has been signed.
“Only citizens who are currently in the reserve and, above all, those who served in the Armed Forces, have certain military specialties and relevant experience, will be subject to conscription.“ pic.twitter.com/97TrW0EvWV
— Ragıp Soylu (@ragipsoylu) September 21, 2022
Texto originalmente publicado no SITE do RFI.