Em 9,63 segundos Bolt transformou todos o atletas de Londres 2012 em coadjuvantes

Atualizado em 6 de agosto de 2012 às 10:10
Ele aprendeu que o importante não é sair na frente, é chegar na frente

 

Acabou a discussão.

As Olimpíadas de Londres passarão para a história como as Olimpíadas de Bolt.

Nenhuma competição era tão esperada como os 100 metros livres. O motivo era a presença do homem mais rápido do mundo, ele mesmo, Bolt.

Houve drama em torno dele antes da prova. Bolt, que se tornou a maior figura do atletismo mundial nas Olimpíadas de Beijing, em 2008, admitiu que estava preparado não 100%, mas “95%”. Na Jamaica, este ano, ele foi batido pela “Besta”, o apelido de seu jovem compatriota Yohan Blake, de 22 anos.

Blake – o apelido vem da intensidade com que ele treina – transformaria Bolt num rei destronado?

A resposta veio em 9,63 segundos, o tempo de Bolt para ganhar a prova, um novo recorde olímpico. Blake ficou com uma prata que nunca foi tão humilde diante do ouro olímpico.

Policiais londrinos homenageiam Bolt

Nos primeiros 50 metros, pareceu que Bolt podia ser batido. “Não foi a melhor largada do mundo”, disse ele depois.

Preocupação no estádio, lotado por 80 000 torcedores aflitos de Usain Bolt.

Só uma pessoa não estava preocupada: o próprio Bolt. “Aprendi criança, com meu treinador, a não me preocupar com começos ruins”, disse ele à mídia. “Meu forte é a parte final da prova.”

Nela, Bolt foi Bolt.

Pareceu voar. O temível Blake, a Besta, virou um coadjuvante, um discípulo. “Ele treina mais duro que eu, tenho que reconhecer”, disse Bolt. “Mas eu sei os atalhos.” Bolt e Blake treinam juntos. Numa entrevista dias antes da prova, um jornalista perguntou a Bolt quem ele gostaria que ganhasse o ouro, caso não fosse ele mesmo. Bolt imediatamente riu, não por arrogância, não por soberba — mas por uma mistura de bom humor com autoconfiança. Depois, recomposto, citou Blake.

Vencida a corrida, com a qual seu cachê continuará na casa dos 200 000 dólares por competição para a qual é convidado, Bolt deu seu  espetáculo particular. Fez seu gesto clássico: inclinou o corpo para a direita e esticou o braço esquerdo em direção ao céu, como se estivesse prestes a lançar uma flecha ou a arremessar um relâmpago – ele próprio. Abraçou Wenlock, o mascote dos Jogos. Agradeceu a Deus, com um olhar. Abraçou compatriotas na torcida.

E então se retirou com passos não de atleta, mas de rei do universo, a bandeira jamaicana nas costas como se fosse um manto sagrado.