
Acabou a discussão.
As Olimpíadas de Londres passarão para a história como as Olimpíadas de Bolt.
Nenhuma competição era tão esperada como os 100 metros livres. O motivo era a presença do homem mais rápido do mundo, ele mesmo, Bolt.
Houve drama em torno dele antes da prova. Bolt, que se tornou a maior figura do atletismo mundial nas Olimpíadas de Beijing, em 2008, admitiu que estava preparado não 100%, mas “95%”. Na Jamaica, este ano, ele foi batido pela “Besta”, o apelido de seu jovem compatriota Yohan Blake, de 22 anos.
Blake – o apelido vem da intensidade com que ele treina – transformaria Bolt num rei destronado?
A resposta veio em 9,63 segundos, o tempo de Bolt para ganhar a prova, um novo recorde olímpico. Blake ficou com uma prata que nunca foi tão humilde diante do ouro olímpico.

Nos primeiros 50 metros, pareceu que Bolt podia ser batido. “Não foi a melhor largada do mundo”, disse ele depois.
Preocupação no estádio, lotado por 80 000 torcedores aflitos de Usain Bolt.
Só uma pessoa não estava preocupada: o próprio Bolt. “Aprendi criança, com meu treinador, a não me preocupar com começos ruins”, disse ele à mídia. “Meu forte é a parte final da prova.”
Nela, Bolt foi Bolt.
Pareceu voar. O temível Blake, a Besta, virou um coadjuvante, um discípulo. “Ele treina mais duro que eu, tenho que reconhecer”, disse Bolt. “Mas eu sei os atalhos.” Bolt e Blake treinam juntos. Numa entrevista dias antes da prova, um jornalista perguntou a Bolt quem ele gostaria que ganhasse o ouro, caso não fosse ele mesmo. Bolt imediatamente riu, não por arrogância, não por soberba — mas por uma mistura de bom humor com autoconfiança. Depois, recomposto, citou Blake.
Vencida a corrida, com a qual seu cachê continuará na casa dos 200 000 dólares por competição para a qual é convidado, Bolt deu seu espetáculo particular. Fez seu gesto clássico: inclinou o corpo para a direita e esticou o braço esquerdo em direção ao céu, como se estivesse prestes a lançar uma flecha ou a arremessar um relâmpago – ele próprio. Abraçou Wenlock, o mascote dos Jogos. Agradeceu a Deus, com um olhar. Abraçou compatriotas na torcida.
E então se retirou com passos não de atleta, mas de rei do universo, a bandeira jamaicana nas costas como se fosse um manto sagrado.