As 13 maiores personagens da história da literatura

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:42
Moll Flanders (Alex Kingston), numa série da ITV em que um futuro Bond trabalhou

Que você faz com uma filha onívora em livros, uma adolescente de 15 anos que vai de Balzac a Jane Austen, de Daniel Defoe a Dickens, de Agatha Christie a Stieg Larsson, de Eça a Machado de Assis?

Bem, você pode encomendar textos literários para o Diário, por exemplo.

Numa conversa com Camila, falamos em alguns grandes personagens de livros. E então ela propôs fazer uma lista com suas preferências. Falei em 10, mas ela rebateu que seu irmão Pedro, jornalista e editor do site masculino El Hombre, gosta de números ímpares nas listagens.

“Treze, papai. Gosto do 13.”

Por um instante a imagem fantasmagórica de Zagallo, com sua obsessão pelo 13, me passou pela cabeça. Mas tudo bem: fechado. As personagens serão apresentadas na ordem inversa, em nome do suspense para ver de quem é, bem, a medalha de ouro.

Camila começou com uma das mulheres mais atrevidas já criadas por um romancista: Moll Flanders.

Boa leitura.

Número 13: Moll Flanders, do romance Moll Flanders, de Daniel Defoe, publicado em 1722

 

Em seu livro Aspectos do Romance, o escritor inglês E.M. Forster afirmou que “Moll Flanders preenche sozinha todo o livro que leva seu nome, ou melhor, ergue-se sozinha nele, como uma árvore no parque, de modo que podemos avistá-la sob todos os ângulos sem ser incomodados por arbustos que venham a disputar nossa atenção.”

Sou obrigada a concordar com entusiasmo. Moll é uma ruiva roliça e inteligente que usa sua beleza e carisma para escapar da pobreza por meio de casamentos e, mais tarde, de crime. Nas adaptações do romance de Daniel Defoe, Moll foi interpretada por atrizes como Kim Novak, Alex Kingston e Robin Wright. Em uma primeira fase de sua vida, a personagem dedicou-se aos maridos: foi trígama (se não quadrígama) e um de seus maridos era o próprio irmão. Foi apaixonada por um deles, Jemmy Seagrave, um assaltante de estradas interpretado por Daniel Craig na série The Fortunes and Misfortunes of Moll Flanders, minha adaptação favorita da obra. Jemmy se passava por um cavalheiro e Moll por uma dama, e se atraíram para o casamento sem ter ideia de que nenhum dos dois tinha dinheiro algum. Depois de cerimônia, cada qual descobre a farsa do outro.

Camila, com o Almirante Nelson, no museu de cera Madame Tussauds

É a grande sacada de Daniel Defoe. Se estivesse escrevendo mecanicamente, faria com que repreendessem um ao outro. Mas ele se rendeu ao humor e ao bom senso de sua heroína. Moll e Jemmy estão enfrentando os fatos, e não a teoria moral do autor – assim, como dois trambiqueiros de bom coração, não montam nenhum escândalo. Passam a noite juntos e, no dia seguinte, Jemmy vai embora.

Moll se casa pela quinta vez com um banqueiro, mas após a morte deste troca os maridos pelo roubo; considera essa mudança para pior e então todo o cenário se torna mais sombrio. A maior parte dos críticos que analisaram o romance concorda em uma coisa: uma das maiores cenas da literatura é a em que Moll faz uma reflexão após roubar o colar de ouro de uma garotinha que voltava da aula de balé. Essa cena se passa em uma pequena passagem que leva a St. Bartholomew, em Smithfield, e o impulso de Moll é matar a criança, além de roubá-la. Não o faz; o impulso foi fraco. Mas, consciente do risco que a garota correu, fica indignada com os pais dela por ‘deixarem que sua pobre ovelhinha voltasse para casa desacompanhada!’

“Com que dificuldade um psicólogo explicaria o que passou pela mente de Moll Flanders!”, afirma Forster. “Qualquer coisa que ela faz nos provoca um leve choque – não o impacto da desilusão, mas o estremecimento que um ser vivo desperta. Rimos dela, mas sem amargura ou superioridade. Ela não é nem hipócrita nem tola.”

Na época em que o livro foi escrito, a justiça era impiedosa; um simples roubo poderia culminar em uma condenação à morte. Perto do fim do livro, Moll é flagrada roubando uma loja de tecidos. É presa em Newgate, prisão na qual nasceu, e condenada ao enforcamento. Entretanto, acaba sendo deportada para a Virginia, nos Estados Unidos, então colônia britânica. Ocorre que Jemmy, a quem chama seu “marido de Lancashire”, também está sendo deportado. Desembarcam juntos na Virginia e, nas palavras da própria personagem, “decidem passar o resto de suas vidas em sincera penitência pela vida perversa que outrora levaram.”