Por que os golpistas temem o novo governo e as instituições. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 15:36
Bolsonaro discursa em atos golpistas – Foto: Isac Nóbrega/PR

Publicado originalmente no blog do autor

O manifesto pró-golpe publicado hoje será esquecido logo pela repercussão do próximo gesto golpista. Porque agora alguém em algum momento produz algo semelhante por dia.

Tem sido assim desde a eleição, mas nos últimos dias a coisa se intensificou. A orientação, difundida pelos líderes do golpe em grupos de zap de tios e tias, é essa: tenham fé e não desistam porque não há o que temer.

Não há um grandão punido desde muito antes da eleição. Nada. Nenhum fascistão foi enquadrado. Só a chinelagem do golpe, alguns caminhoneiros e nada mais.

Prenderam arruaceiros, multaram quem bloqueou estradas, abriram inquéritos contra mandaletes do golpe, mas não há nada contra formuladores, líderes e financiadores do golpe.

Nada, nada, nada. Nunca houve nada e por isso eles acham que nada acontecerá contra os poderosos que articulam as ações criminosas contra a eleição, o Supremo e a Constituição.

Assim tem sido. Tudo é feito em nome da liberdade de expressão. Tentam destruir a democracia em nome das liberdades. Sempre foi assim e assim continuará sendo, enquanto eles estiverem impunes.

Há consenso entre os que tentam compreender o fenômeno do golpe: a ideologia não é a principal força a inspirar e mobilizar o golpismo. A maioria nem sabe o que é ideologia.

Não devem ser poucos os casos em que a ação é um gesto desesperado de quem não quer ser confrontado com a lei e as instituições a partir da posse de Lula.

O golpista grandão é muitas vezes alguém com problemas sérios a resolver. Um governo republicado irá interromper ou adiar soluções que os esquemas de Bolsonaro encontraram para essa gente dentro do Planalto e no seu entorno.

Tem golpista enredado em questões fiscais. Tem golpista comprovadamente sonegador. Tem golpista envolvido em negociações espúrias com o governo, em todas as áreas, e tem golpista bandido, como os garimpeiros, grileiros e contrabandistas da Amazônia.

O golpismo de rua, que mobiliza patriotas, nem sabe direito de que forma é usado por gente com muito dinheiro que não quer perder o que ganhou com a proteção de Bolsonaro e dos militares que tutelam o governo,

É gente que teme um governo que abra gavetas e um sistema de Justiça que volte a funcionar, não plenamente, mas pelo menos sem os temores provocados pelo fascismo.

Vamos repetir, porque merece ser repetido. É agora que o sistema de Justiça terá de responder ao ministro Gilmar Mendes sobre as autoridades sem brio.

A partir de janeiro, golpistas com problemas que o bolsonarismo abafou serão confrontados com privilégios que configuram delitos graves.

É o que se espera. A impunidade que veio até aqui e que poupou muita gente terá de ser enfrentada. Vão ter que achar brio em algum lugar.

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/