
Grandes empresários que prometeram a Bolsonaro uma luta heroica e incessante pelo golpe já abandonaram o líder.
Poucos continuam promovendo nas redes sociais os acampamentos na frente dos quartéis.
São os que ainda têm coragem para expressar gratidão e fidelidade incondicional a Bolsonaro. O resto todo se evaporou, se dispersou e começou a silenciar em dezembro.
Os homens do dinheiro poderiam inspirar os patriotas até o limite, mas mandaram dizer a alguns jornalistas que estariam cansados de guerra, até mesmo no zap.
Uma guerra em que eles não aparecem presencialmente, mas financiam e empurram manés em transe para a linha de frente.
O cansaço pode ser muito mais o temor com as consequências do que não deu certo e dificilmente dará.
Um golpe fracassado não sairá de graça para quem vive de preservar interesses. O silêncio é a exaustão misturada a covardia.
Há refluxo num movimento que nunca se revelou forte o suficiente para conseguir o que a extrema direita queria.
Os bloqueios nas estradas desapareceram, e tem mais gente voltando do que indo em direção aos acampados.
Bolsonaro fica no meio do caminho, mais atrapalhando do que orientando condutas, e os últimos a levarem o blefe a sério não sabem com quem contar.
É possível que a clausura de Bolsonaro tenha sido motivada pela dúvida. Em algum momento ele percebeu que não poderia contar com empresários que tiveram proteção do governo e políticos que construíram seus planos comendo na sua mão.
Mas o derrotado irá cobrar essa conta. Cobrará dos que se beneficiaram das suas ações ou omissões, em muitas frentes, e dos que chegam a governos, ao Congresso e a Assembleias com mandatos que só existirão porque ele existe.
Saberemos, quando tapetes imundos forem erguidos pelo governo Lula, o que parte desse contingente de apoio a Bolsonaro ganhou para ser tão radical e ‘ideologicamente’ fiel ao tenente que mandava em generais.
Que favores Bolsonaro dispensou a alguns apoiadores que vieram até aqui gritando o jogral do golpe e que só agora decidiram parar.
Que concessões criminosas foram feitas a grileiros, garimpeiros, contrabandistas de madeira e bandidos da floresta nos quatro anos de bolsonarismo? E não são apenas bandidos de chinelo de dedo.
Que ‘ideologia’ mobilizou empresários de peso na direção da aventura do golpe, quando uma ruptura sempre foi considerada improvável? O que fez esse gesto temerário valer a pena?
Um dia descobriremos que motivações mais específicas levaram patriotas de grife a se transformar em alvos de Alexandre de Moraes, que terá de enquadrar alguns deles, para que não pegue só a manezada.
Enquanto isso, Bolsonaro vai cobrando a conta, que pode ser paga de várias formas. Os devedores sabem bem como funciona esse PIX de transferência de suporte político e afetivo.
Bolsonaro vai precisar de trincheiras e de carinho. Sem mandato, sem orçamento secreto, sem o centrão, sem militares e sem bajuladores oportunistas, o sujeito passa a ser uma incógnita à espera de um futuro.
E o que ele será depende muito dos que tiveram a sua proteção, alguns dos quais envolvidos em investigações e até hoje impunes. Bolsonaro vai precisar de quem precisou dele para negócios diversos.
Empresários poderosos, com fama nacional, não poderão abandoná-lo quando estiver ao relento da proteção do PL, num condomínio de luxo de Brasília onde grupos de moradores já anunciaram que irão rejeitá-lo.
O entra-e-sai no condomínio Ville de Montagne, no Jardim Botânico, vai dizer se o suporte a Bolsonaro será presencial, efetivo e concreto, ou apenas gasoso e remoto.
Ainda nesse verão, o enclausurado saberá com quem pode contar para não virar um Eduardo Cunha.
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
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