
Enquanto a participação de Bolsonaro nos ataques golpistas de 8 de janeiro é alvo de investigação da justiça brasileira, para observadores internacionais não restam dúvidas. Em reportagem especial da RTVE (Rádio e Televisão da Espanha), a professora de Relações Internacionais da Universidade Autônoma de Madri Susanne Gratius foi categórica. “É evidente que Bolsonaro está por trás disso”.
Em entrevista ao especial “Brasil, depois do caos”, exibido uma semana depois dos atentados, a pesquisadora fala em um movimento construído com o apoio do ex-presidente. “Ele, de alguma forma, havia incentivado este movimento.”
“Ele havia dito antes das eleições que só há três saídas: ou ganho as eleições, ou me prendem ou morro”, lembra.
As imagens da reportagem mostram um militante golpista e mascarado em meio aos ataques na capital federal, que grita à câmera, furioso. “Intervenção militar, Lula filha da p*, ladrão, desgraçado”,
“Nos Estados Unidos, Bolsonaro reagia com frouxidão, por tweets, aos ataques de seus seguidores mais radicais, aos quais defendeu durante meses”, observa a reportagem.
“No mês de novembro, depois de sua derrota, ele mesmo defendeu o bloqueio das rodovias”.
A reportagem faz alusão ao discurso no Palácio do Planalto de 1o de novembro do derrotado nas urnas, quando Bolsonaro diz compreender os protestos.
A televisão espanhola mostra as imagens de uma mulher enrolada numa bandeira brasileira, aparentemente inconformada diante de um cordão militar imóvel em Brasília. “Faz o certo, faz o bem, parem de ser mariquitas assim”.
“As forças armadas são democráticas. Apoiaram Lula, poderia ter ocorrido o contrario porque esse era o fator um pouco menos previsível”, argumenta a professora Susanne Gratius.
“Mas creio que, nesse sentido, ao resolver a situação em três horas, ao solidarizarem-se todas as instituições com o presidente eleito, creio que a democracia se fortaleceu”.
A reportagem expõe o discurso em que Lula lembra que nenhum general havia desautorizado os acampamentos golpistas diante dos quartéis.
“8 de janeiro, o Brasil enfrenta a pior crise na sua história desde o fim da ditadura, em 1985”.
“Tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos, as instituições aguentaram e recuperaram a ordem, mas alertam para o risco que existe quando não se respeitam as regras e o jogo é a democracia”, conclui a reportagem de Carolina Teruel e Jesus Iglesias.