Garimpeiros desviaram vacinas contra covid dos Yanomami em troca de ouro

Atualizado em 15 de março de 2023 às 14:58
Indígena Yanomami tomando vacina contra a Covid-19. Foto: reprodução

No auge da pandemia de Covid-19 no Brasil, garimpeiros subornaram servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) com ouro para receber no lugar dos indígenas algumas das doses da vacina contra o coronavírus.

Segundo informações do Metrópoles, a denúncia consta em ofício enviado ao coordenador do DSEI-Y, ao secretário Especial de Saúde Indígena e ao Ministério Público Federal (MPF), em abril de 2021, pela Hutukara Associação Yanomami, entidade que representa o povo.

Em março de 2021, o Brasil vivia a segunda onda da doença e conseguiu a marca de maior média diária de mortes por Covid do mundo, além do alto nível de óbitos por milhão de habitantes.

“Ainda em janeiro, fomos informados de que a então técnica de enfermagem do polo-base de Homoxi estaria desviando materiais do órgão, incluindo um gerador de energia e gasolina, em troca do ouro extraído ilegalmente no garimpo. Na mesma ocasião, fomos informados de que a funcionária do DSEI-Y estaria aplicando vacinas nos garimpeiros, igualmente em troca de ouro”, alertou a associação.

O mesmo também teria acontecido em outra base, no Uxiu, mas, ao invés da vacina, a funcionária do distrito sanitário teria desviado medicamentos aos garimpeiros, conforme o relato. Os distritos sanitários indígenas são subordinados ao Ministério da Saúde. Na época do alerta, o chefe da pasta era Marcelo Queiroga.

“É comum a queixa por parte dos Yanomamis de que os materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros”, diz o documento, assinado pelo vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, filho do líder Davi Kopenawa. De acordo com ele, em julho de 2020, foi enviado um relato parecido ao DSEI-Y e à Secretaria de Saúde Indígena, informando os desvios de medicamentos.

Sete meses depois, a Hutukara Associação Yanomami enviou outro ofício à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e ao MPF. A razão da revolta ocorreu após órgão que, em tese, protege os povos originários negar a entrada de uma equipe médica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na terra Yanomami. Os médicos foram chamados pelos próprios indígenas, que sofriam de doenças causadas pelo garimpo.

“Nossa floresta está invadida por mais de 20 mil garimpeiros, e nós estamos preocupados com a saúde de nossa população. O rio Mucajaí, onde seria realizado o diagnóstico, é pura lama, e dele nós não podemos beber água e nem tirar peixe para nosso alimento. Acreditamos que tanto as crianças como os adultos possam estar contaminados por mercúrio e desenvolvendo doenças perigosas”, afirmou a associação.

“Hoje ficamos sabendo que a Funai de Brasília negou a autorização de ingresso na Terra Indígena Yanomami para a equipe da Fiocruz. Ficamos revoltados. Por que a Funai proíbe que médicos visitem as nossas comunidades? Por que a Funai não retira os garimpeiros? Será que a Funai quer que os Yanomamis morram para dar nossa floresta aos garimpeiros?”, questionaram.

A justificativa que teria sido dada aos indígenas para impedir a visita dos médicos foi justamente a Covid. Na época, a Funai era comandada pelo Marcelo Xavier, que é investigado por oferecer apoio a um acusado de crime ambiental.

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