Goleiro Bruno anuncia que será coach ou: as mulheres são uma piada nesse país. Por Nathalí

Atualizado em 29 de março de 2023 às 12:09
Ex-goleiro Bruno. (Foto: Reprodução)

O ex-goleiro Bruno, condenado por matar, esquartejar e jogar o corpo da mãe do próprio filho aos cachorros, ainda tem uma carreira. Isso, por si só, é inaceitável.

Mas o Brasil não é para amadores, e foi ainda além: não obstante o fato de não ter caído no ostracismo por ser um feminicida, Bruno tem fãs: como esquecer dos dois bostéticos cruéis que foram a uma festa à fantasia fazer piada com a morte e esquartejamento de uma mulher?

A novidade agora é que o ex-goleiro fará uma transição de carreira tornando-se coach esportivo para “preparar mentalmente os atletas.”

Na verdade, isso pode funcionar: Bruno tem muito a ensinar – como ser um monstro frio e cruel, por exemplo.

Bruno foi condenado, em 2013, a 22 anos e três meses de prisão por assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio, sua ex-companheira. (Foto: Reprodução)

Você poderá dizer que estou sendo muito dura. Afinal, faz dez anos desde que Elisa Samúdio foi assassinada porque cobrou a pensão alimentícia para o filho. Você pode ser um anti-punitivismo radical, você pode dizer que as pessoas aprendem com o tempo e com os erros, e tudo bem, mas não posso assistir a um feminicida virando coach e permanecer em silêncio.

Quando um país – ou parte dele – diz sim a um feminicida, a mensagem que fica é que está tudo bem esquartejar a mãe do seu filho, e essa mensagem fere todas as mulheres que ainda mantém algum senso crítico.

Parece piada: um homem frio e calculista ensinando desenvolvimento mental para atletas é mais do que absurdo, é obsceno, e, por que não dizer, irônico por natureza. Uma mente maligna trabalhando o “desenvolvimento mental” dos outros é um pouco demais, mesmo em um país dado a absurdos.

O fato de o ex-goleiro e assassino condenado ter a pachorra de se tornar um coach de desenvolvimento mental diz muito não apenas sobre ele – e sua notória cara de pau -, mas também sobre os coachs: qualquer um pode ser coach de qualquer coisa, porque coach não é profissão, é um delírio de gente que quer ensinar o que não sabe, o que, muitas vezes, nem mesmo existe ou é possível em uma realidade palpável.

Os coachs são o câncer dos nossos tempos. Estão espalhados por todos os lugares – sobretudo na internet – arrancando dinheiro das pessoas que se sentem incapazes para qualquer coisa que seja: tem coach de emagrecimento, desenvolvimento pessoal e, pasmem, tem coach até de conquista nessa terra de ninguém que é a internet.

Em outras palavras e para resumir, coach é a normalização do charlatanismo, e isso talvez, de fato, combine com um criminoso.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.