O governo acerta ao mirar na importação das pessoas físicas. Por Luis F. Miguel

Atualizado em 15 de abril de 2023 às 11:39
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad – Foto: Reprodução

O que tem ocorrido é uma fraude, fruto de uma estratégia deliberada de empresas estrangeiras, sobretudo chinesas, para buscar brechas nas regras de países como o Brasil.

A farra das importações por via postal significa uma perda significativa de arrecadação – a estimativa chega a cerca de R$ 14 bilhões anuais.

Significa também uma concorrência desleal com a produção nacional – que, essa sim, é obrigada a pagar impostos. O resultado é desquecimento da economia nacional e menos empregos.

O consumidor que paga barato por produtos (em geral de péssima qualidade, aliás) da Shein e de comércios similares acha que está ganhando por um lado, mas perde por outros. Afinal, ele é também o usuário dos serviços públicos e o desempregado ou subempregado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad – Foto: Reprodução

A fase atual do capitalismo é marcado pelo aumento da concentração da riqueza. O poder de compra dos trabalhadores está aviltado. Para minorar a frustração gerada por este cenário, há uma aposta redobrada na superexploração de setores da mão de obra, gerando mercadorias mais baratas que mesmo os salários baixos conseguem comprar – o que Yanis Varoufakis chamou “efeito Walmart”.

A sonegação de impostos é outra face do mesmo processo.

Ao se colocar contra essa lógica, o governo acerta. Tem errado, porém, na comunicação com o público. A declaração de Haddad de que não conhece a Shein porque só compra livro – “todo dia” – na Amazon, que só pode ter soado elitista e debochada, foi um tremendo equívoco. Um homem inteligente como ele devia evitar essas derrapadas.

Publicado originalmente nas redes sociais do autor

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.