
O que tem ocorrido é uma fraude, fruto de uma estratégia deliberada de empresas estrangeiras, sobretudo chinesas, para buscar brechas nas regras de países como o Brasil.
A farra das importações por via postal significa uma perda significativa de arrecadação – a estimativa chega a cerca de R$ 14 bilhões anuais.
Significa também uma concorrência desleal com a produção nacional – que, essa sim, é obrigada a pagar impostos. O resultado é desquecimento da economia nacional e menos empregos.
O consumidor que paga barato por produtos (em geral de péssima qualidade, aliás) da Shein e de comércios similares acha que está ganhando por um lado, mas perde por outros. Afinal, ele é também o usuário dos serviços públicos e o desempregado ou subempregado.

A fase atual do capitalismo é marcado pelo aumento da concentração da riqueza. O poder de compra dos trabalhadores está aviltado. Para minorar a frustração gerada por este cenário, há uma aposta redobrada na superexploração de setores da mão de obra, gerando mercadorias mais baratas que mesmo os salários baixos conseguem comprar – o que Yanis Varoufakis chamou “efeito Walmart”.
A sonegação de impostos é outra face do mesmo processo.
Ao se colocar contra essa lógica, o governo acerta. Tem errado, porém, na comunicação com o público. A declaração de Haddad de que não conhece a Shein porque só compra livro – “todo dia” – na Amazon, que só pode ter soado elitista e debochada, foi um tremendo equívoco. Um homem inteligente como ele devia evitar essas derrapadas.
Publicado originalmente nas redes sociais do autor