Bolsonaro e a extrema direita foram “beneficiários passivos” das redes sociais, diz pesquisador

Atualizado em 16 de abril de 2023 às 8:50
Bolsonaristas golpistas nos atos do dia 8 de janeiro. Foto: Evaristo Sá

De acordo com o jornalista e pesquisador americano Max Fisher, a forma como as redes sociais são arquitetadas beneficia os discursos da extrema-direita, tanto no Brasil como em outros lugares do mundo. Em uma entrevista recente, ele afirmou que a lógica dos algoritmos favorece o extremismo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo.

Segundo Fisher, o bolsonarismo foi, em grande parte, “beneficiário passivo” de uma mudança nas plataformas que ocorreu em 2016: “Bolsonaro e seu grupo usam a mesma tática nas redes há muito tempo, desde 2013. No começo, não tinham muito sucesso. Lá para 2016, o Facebook, o YouTube e o Twitter mudaram seu funcionamento e tornaram seu algoritmo mais sofisticado, cumprindo um papel bem mais direto na maneira como você experimentava essas redes. Imediatamente, o público dos bolsonaristas ficou muito maior”, afirma o pesquisador.

“E isso foi antes de pesquisas mostrarem o aumento de popularidade de Bolsonaro entre os brasileiros. Essa mudança nas plataformas os empurrou para cima. Claro, havia outros aspectos da política brasileira em curso, mas Bolsonaro e políticos similares foram, em grande parte, beneficiários passivos”, completa.

O jornalista e pesquisador Max Fisher. Foto: Francisco Proner

Para Fisher, não se trata de “ser bom” ou não em usar as redes sociais. Questionado sobre o fato de a esquerda ter discutido na última eleição sobre como melhorar sua presença nas redes e ser tão boa quanto a direita, o pesquisador concordou que se trata de uma causa perdida. “No começo, parecia que a extrema direita era muito boa em usar as redes sociais. Mas quanto mais aprendemos, mais vemos que não é o caso”, disse.

Max Fisher é autor do livro “A Máquina do Caos”, em que transforma anos de investigação jornalística sobre empresas do Vale do Silício em uma obra que conta como as big techs acabaram se tornando um grande problema para a sociedade. No livro-reportagem, ele discute os limites dos controles nacionais e da moderação interna à promoção de conteúdos condenáveis. De acordo com ele, a regulação das big techs deve focar mais no assunto “promoção de discurso de ódio” do que na moderação.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link
Victor Gaspodini
Victor Gaspodini é jornalista, mora em Florianópolis e torce para o Avaí Futebol Clube.