
Palavras do indiano Zubin Mehta, um dos maiores maestros do mundo, hoje diretor artístico da Filarmônica de Israel: “Estive no Brasil muitas vezes, em várias partes. Mas poucas coisas me tocaram tanto quanto isso. A primeira vez que vi, fiquei tão emocionado que quase não pude falar.”
Isso é a Sinfônica Heliópolis, formada por 78 músicos egressos da favela homônica de São Paulo, na qual vivem em condições inadmissíveis 100 000 pessoas.
A Sinfônica é uma criação do maestro Sílvio Bacarelli, para o qual seguem palmas de pé do Diário. Clap, clap, clap. Ele se comoveu ao saber que um incêndio matara sete pessoas na favela, e decidiu fazer alguma coisa por aquela gente absolutamente excluída da sociedade.
Bacarelli levou música para as crianças de Heliópolis. A música poderia ajudá-las a sair da favela. O mesmo aconteceu com os judeus em épocas de perseguição, como já notou o próprio Mehta: “A música permitiu a muitos judeus sair dos guetos”. Outras iniciativas do gênero, no Brasil, merecem também admiração e apoio. Uma delas é o Projeto Guri, espalhado por várias cidades brasileiras e dentro da mesma lógica da música como um fator de ascensão social.
Mehta é uma espécie de maestro à distância da Sinfônica de Heliópolis. Nesta semana, na quarta-feira, ele vai comandá-la num momento histórico para a orquestra. Ela se apresentará no Teatro Municipal, de São Paulo.
Só não vou porque 10 000 quilômetros me impedem de ver, sob a batuta de um gênio consagrado mundialmente, os jovens músicos que encontraram na música uma porta para escapar do gueto social em que estavam confinados.
Mas vi, daqui, um minidocumentário de quinze minutos sobre a Sinfônica Heliópolis – compartilhado no pé deste texto, e que recomendo fortemente – que, se não aplaca, ao menos mitiga minha frustração em não aplaudir de pé, no Municipal, aqueles jovens que escaparam da miséria em que nasceram pela via de instrumentos cujo nome sequer conheciam.