Bolsonarista presidente da Assembleia de Deus em Goiás desviou R$ 230 mil dos fieis para o próprio bolso

Atualizado em 4 de junho de 2023 às 17:19
Uma das dezenas de publicações do pastor Noel Garcia dos Reis em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) (crédito: reprodução)

Ao acessar a conta no Twitter do pastor Pastor Noel Garcia dos Reis, presidente (afastado) da Assembleia de Deus em Planaltina de Goiás, um internauta desavisado tenderia a imaginar que se trata de uma página de um político ultrabolsonarista, e não de um religioso.

É que o pastor só posta mensagens sobre política, sempre enaltecendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), como na imagem acima, ou atacando partidos e lideranças de esquerda. Na rede social, ele mesmo assim se define: “Pastor, conservador, casado, pai e avô”.

Nos cultos que ministrava, era comum que apenas temas políticos fossem tratados. Em um deles, afirmou que “a gente de esquerda age em nome dos interesses do Demônio”. O pastor se referia ao Partido dos Trabalhadores, o PT, como Partido das Trevas. Além disso, é comum que o pastor publique também mensagens homofóbicas. Veja os exemplos abaixo.

Para o pastor que desviou R$ 230 mil dos fieis, o PT é o “Partido das Trevas” (crédito: reprodução)
Postagem com teor homofóbico postada pelo pastor acusado de desviar R$ 230 mil de seus fieis (crédito: reprodução)

Só o que o pastor bolsonarista não conta é que ele foi afastado do cargo no final de abril deste ano, logo após ter sido denunciado à Justiça pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), por desviar pelo menos R$ 230 mil dos fieis de seu ministério para o seu próprio bolso.

De acordo com o que informam os promotores goianos, no último dia 27 de abril, o pastor tornou-se réu pelos crimes apurados, quando o juiz Carlos Arthur Ost Alencar, da 2° Vara Criminal de Planaltina, acatou a denúncia do MP-GO.

O magistrado ainda proibiu o pastor Noel de se aproximar das testemunhas e da igreja. “Há informações de que através de sua posição de influência perante a comunidade religiosa a utilizou para silenciar/retaliar as pessoas, inclusive utilizando o próprio Poder Público (mediante ajuizamento de diversas ações/procedimentos)”, escreveu o juiz.

Dinheiro dos fieis foi usado para comprar casa e pagar planos de saúde e previdência

Os desvios de dinheiro se deram por, pelo menos, de 2015 até o início deste ano. Sem qualquer previsão legal ou autorização estatutária, ao longo de todo este tempo, o pastor simplesmente retirava parte do dinheiro do dízimo que a igreja recebia para pagar seus boletos de plano de saúde e previdência.

O magistrado solicitou ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) o envio de extratos de pagamento feitos pela igreja ao religioso. Ele pediu ainda ao Bradesco, que é responsável pelo plano de saúde do pastor., que envie à Justiça todas as informações e documentos acerca dos pagamentos. Alencar também determinou a quebra do sigilo de Noel e da igreja.

“Essas despesas também não poderiam ser suportadas pela instituição religiosa em razão de que são absolutamente estranhas à função religiosa exercida pelo denunciado, vale dizer, elas, direta ou indiretamente, em nada contribuem para o exercício da função religiosa por ele assumida, revestindo-se, pois, de verdadeira usurpação financeira”, argumentou o promotor do caso, Asdear Salinas Macias.

Ao todo, dentro do período investigado pela polícia e pelo MP, o caixa da instituição sofreu desfalque de R$ 71,5 mil, seja por meio do pagamento de boletos, seja através de cobranças duplicadas de valores que teria a receber da igreja.

O modus operandi do pastor consistia em mudanças frequentes na equipe de tesouraria, trazendo valores já pagos para uma lista de débitos, sempre endereçando a dívida a ser paga a si próprio.

Além disso, segundo o promotor, existe um imóvel que era de propriedade da igreja e que foi repassado ao nome de Noel. O imóvel, localizado na mesma quadra da instituição religiosa, foi repassado ao nome do pastor porque a instituição tinha “dívidas” a serem pagas ao próprio Noel.

Na investigação, porém, uma das testemunhas chaves do inquérito relatou que a dívida já havia sido paga “tempos atrás”, e que o assunto sobre a doação do imóvel era “tratado sob muito sigilo entre a diretoria (da igreja)”.

Em nota enviada à imprensa, o pastor Noel disse que todas as acusações contra ele são falsas, e que quem o acusa sao ex-membros da igreja, esses sim que teriam cometido atos de corrupção e por isso teriam sido afastados por ele da instituição, e agora estariam tentando se vingar. O pastor teve seu sigilo financeiro quebrado e aguarda seu julgamento em liberdade.

A Justiça poderá, nos próximos dias, bloquear as contas do do bolsonarista, para que eventualmente o dinheiro ali encontratado seja devolvido a igreja.