
O número de mortes de indígenas por desassistência na área de saúde aumentou quase cinco vezes na gestão de Jair Bolsonaro (PL) em comparação com os governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
Os dados são do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que divulgou na quarta-feira (26) o relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil.
O ano passado foi marcado como o maior número de registros, com 40 óbitos – sendo um a mais que o número de 2021, até então o maior.
O relatório reúne registros de diversos tipos de violência contra indígenas, distribuídos em três categorias. Todas apresentaram crescimento na comparação com o ciclo anterior: contra o patrimônio (alta de 40%), contra a pessoa (64%) e por omissão do Poder Público (65%).
Os casos de “violência por omissão do Poder Público” foi o que mais cresceu durante o governo de Bolsonaro. É neste grupo que estão compilados os casos de morte por desassistência, que foram 25 nas gestões Dilma e Temer e saltaram para 120 com Bolsonaro, um aumento de 380%.

Relatórios revelados pela Folha de São Paulo mostram que a estrutura de assistência à população foi precarizada durante a gestão de Bolsonaro.
A precarização da saúde indígena teve consequências graves na Terra Indígena Yanomami, que viu uma explosão de casos de malária, gripes e desnutrição, associados ao garimpo ilegal.
Nas vistorias realizadas nos polos de saúde do território entre os dias 15 e 25 de janeiro, a equipe da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) encontrou remédios vencidos, seringas orais reutilizadas indevidamente e fezes espalhadas em unidades de atendimento, além de desvio de comida e de medicamentos para tratamento de malária.
O relatório ainda mostra a explosão dos casos de malária durante o governo Bolsonaro: foram registrados 9.928 casos da doença na região da terra yanomami em 2018, número que passou para 20.393 em 2021.
O documento ainda aponta que 30% dos casos ocorreram na faixa etária de 0 a 9 anos e que o local de provável infecção que mais cresceu no período foi justamente em áreas de garimpo. O ano passado, segundo dados da Sesai, registrou 965 mortes de crianças de até 4 anos.
“Nos últimos anos, houve a fragilização das equipes que prestam serviço de atenção básica nas comunidades. Elas passaram a não mais visitar e permanecer nas áreas, passaram a atuar de forma rotativa, sem fazer monitoramento de mulheres grávidas, crianças, das doenças verminoses ou respiratórias. A atenção primária foi muito fragilizada”, disse Roberto Liebgott, coordenador do Cimi.
Segundo o relatório, os casos de desassistência na área de saúde como um todo também cresceram, passando de 180 entre 2015 e 2018 para 361 no governo Bolsonaro.
Para o Cimi, a intensidade e a gravidade do ciclo de violações praticadas na gestão Bolsonaro não podem ser compreendidas fora do contexto de desmonte da política indigenistas e dos órgãos de proteção ambiental.
“O brutal contexto do ciclo de violações, revelado por meio de relatos e imagens impactantes divulgadas ao longo do ano, reflete-se nas informações reunidas neste relatório e nos alarmantes dados referentes à desassistência na área de saúde, à mortalidade na infância, aos assassinatos e às violências ligadas ao patrimônio indígena”, destacou o documento.