A alegria cívica do registro da candidatura de Lula no TSE em tempos bicudos para a democracia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de agosto de 2018 às 19:44
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Existe uma maldição chinesa — sim, maldição — que reza o seguinte: “que você viva tempos interessantes”.

A candidatura de Lula à Presidência da República foi registrada na tarde de quarta, dia 15, no TSE, em Brasília.

Uma multidão calculada pela PM em 10 mil pessoas aguardava do lado de fora.

Numa carta lida por Fernando Haddad, Lula afirma querer que “o povo possa decidir se me dará a oportunidade de consertar o país”.

“Vamos nos espalhar pelo Brasil para nas ruas, no trabalho, nas redes sociais, mas principalmente olhando nos olhos das pessoas, lembrar que esse país um dia já foi feliz e que os mais pobres estavam contemplados no orçamento da União como investimento, e não como despesa”, escreveu.

“De agora por diante, se a legislação for cumprida, o Lula é candidato até o final das eleições e vai ganhar”, disse o vice Haddad.  

O TSE tem prazo até 17 de setembro para fazer a análise. Cabe recurso ao STF de qualquer decisão.

Ao tomar posse na presidência da corte, Rosa Weber deu a pista: uma candidatura que não sofrer impugnação pode ser indeferida “de ofício” pelo relator.

Ou seja, sem necessidade de abertura de processo e de julgamento no plenário.

O roteiro estava acertado na Profecia de Jucá. Não faz sentido, no espectro do golpe, retirar Dilma daquela maneira farsesca para, dois anos depois, Lula assumir.

Mas a democracia não depende de finais felizes. É uma batalha cotidiana. 

A resiliência da candidatura de Lula é uma glória republicana (no bom sentido do termo).

Chegar até aqui é uma vitória. Preso em Curitiba, Lula lidera as pesquisas e comanda o debate das eleições. Seus adversários têm de lidar com isso.

De um lado, Moro e a Lava Jato, a Globo e seus camarottis, mervais e leitões, o “mercado”, o ódio, a desigualdade eterna, a classe dominante que Darcy Ribeiro chamou de “ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir pra frente”.

Do outro lado, você e a democracia.

Hoje é festa, um passo adiante num caminho longo e tortuoso. Amanhã vai ser outro dia.

O professor Mário Sérgio Cortella falou sobre “alegria cívica”.

Segundo ele, é “uma coisa a ser ensinada”.

Não se trata de ufanismo tolo, mas existe, dentro do civismo, como na vida em conjunto na sociedade, algo que tem de nos alegrar.

Nessa nossa convivência em uma democracia temos eleições e a nossa participação política, que já se dá no dia a dia, acontece de um modo especial, que é com a possibilidade de votar, escolher aqueles e aquelas que vão dirigir, em nosso nome, nossa sociedade, nossa cidade, nossas leis, nossa comunidade. (…)

A criança e o jovem podem aprender com o adulto que atitude cívica é algo gerador de alegria e cidadania.

Que você viva tempos interessantes.