A aliança de Carlos Sampaio e do MBL com um prefeito condenado a 32 anos de prisão. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de outubro de 2015 às 10:39
Carlos Sampaio (centro) e o prefeito de Vinhedo, Milton Serafim (dir.), condenado a 32 anos de prisão
Carlos Sampaio (centro) e o prefeito de Vinhedo, Milton Serafim (dir.), condenado a 32 anos de prisão

 

Você conhece Vinhedo, no interior de São Paulo? Provavelmente, não. Mas já ouviu falar do deputado federal Carlos Sampaio, o maníaco tucano do impeachment.

Vinhedo é onde o brasileiro encontra o verdadeiro Sampaio. Boneco de ventríloquo de Aécio Neves, eternamente alterado (lembra o Collor apoplético), ele vive, como se sabe, de berrar contra a corrupção e de encomendar pareceres jurídicos.

No meio do lodaçal suíço em que Cunha mergulhou, Sampaio conseguiu dizer que daria ao homem “o benefício da dúvida”. Um espanto. A indignação de Sampaio é tão falsa quanto a de seus auxiliares, os kataguiris do MBL. A roubalheira, quando lhes convém, é um detalhe insignificante.

Há dias, o ex-prefeito de Vinhedo, Milton Serafim, foi condenado a 32 anos de prisão e multa de 264,7 mil reais por tomar vantagens indevidas no cargo: extorquiu dinheiro em troca da aprovação de loteamentos na cidade entre 1997 e 2004.

Serafim renunciou em março de 2014 para não ser cassado. Como no caso de Cunha, sua carreira não começou agora. Os pepinos com a Justiça vêm desde pelo menos 2005, quando teve a primeira detenção preventiva. Puxou cana com secretários de novembro daquele ano a janeiro de 2006, até conseguir um habeas corpus. Em 2008, xadrez novamente.

Vinhedo tinha três condomínios de luxo quando ele assumiu pela primeira vez. Hoje, tem quarenta. Um promotor do caso diz que foi ameaçado. Enfim, Serafim é chave de cadeia há décadas.

Há alguns meses, o probo, o incansável, o inoxidável Sampaio se sentiu à vontade para anunciar, em suas redes sociais, que esteve “no lançamento da campanha da Ana Genezini para deputada estadual, ao lado do amigo e ex-prefeito Milton Serafim.”

Sampaio, que é de Campinas, dividia com Serafim a defesa dos interesses dessa rica região paulista. “Na manhã desta terça-feira em Brasília, o prefeito Milton Serafim se encontrou com o deputado federal Carlos Sampaio e discutiram diversos temas de importância para Vinhedo e região. Entre os assuntos, destaque para a emenda de R$ 300 mil do deputado para a área esportiva da cidade, especificamente reforma e modernização de Centro Esportivo”, diz um jornal campineiro.

Vinhedo é o berço político dos extremistas do Movimento Brasil Livre. Eles começaram ali, fantasiados com um xarope de doutrinação e justificativa liberal, como era inevitável.

 

Renan Santos e Rubens Nunes, do MBL (atrás, à esq.), na posse do vice de Vinhedo, acusado de superfaturar merendas
Renan Santos e Rubens Nunes, do MBL (atrás, à esq.), na posse do vice de Vinhedo, acusado de superfaturar merendas

 

Renan Santos, um dos líderes do grupo, iniciou ali sua militância e é descrito em alguns jornais como “orgulho local”. O coordenador jurídico do MBL é Rubens Nunes Filho, também de Vinhedo, filho de um vereador e ex-presidente da Câmara municipal sob Serafim.

Muitas das contas de Facebook do grupelho fazem referência à localidade (algumas delas: https://www.facebook.com/Movimento-Brasil-Livre-Vinhedo-1031383266894408/; Renova Vinhedo: https://renovavinhedo.wordpress.com/2014/06/19/001/).

O substituto de Serafim é seu vice, Jaime Cruz, não exatamente um exemplo do homem público. Foi acusado de superfaturar merenda juntamente com o ex-chefe. Em 2010, também envolveu-se na licitação irregular para construção de um anexo da Câmara.

Os herois vinhedenses nunca deram um pio sobre as falcatruas do próprio alcaide. Em companhia do campineiro Sampaio, Renan e Rubinho prestigiaram  a posse de Jaime Cruz, erguendo brindes animados. Cruz, que trabalha com Serafim desde 1996, manteve todo o secretariado e os contratos da gestão anterior.

Carlos Sampaio e seus asseclas fariam um favor a si mesmos se assumissem que seu teatro não tem nada a ver com a luta contra os corruptos. Trata-se apenas de fomentar um golpe para colocar no país os serafins de sua confiança.

 

Sampaio com Serafim (esq): aliado já havia sido preso duas vezes desde 2005
Sampaio com Serafim (esq): aliado já havia sido preso duas vezes desde 2005