A arquiteta que está mudando a cara da China

Atualizado em 23 de maio de 2013 às 6:17

Museus, centros culturais, óperas: as marcas da iraquiana-britânica Zaha Hadid na paisagem do país.

 

O edifício Galaxy Soho

 

A arquiteta Zaha Hadid deixou sua marca em muitos países, incluindo a China. Um ditado chinês diz que viajar é tão importante quanto a leitura dos clássicos. Isso é especialmente verdadeiro para Hadid, a iraquiana-britânica que foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Pritzker. O edifício Galaxy Soho, com seus 47 000 metros quadrados, inspirado em uma viagem à Grande Muralha, foi concluído em outubro e agora é um marco em Pequim.

“Eu sempre pensei que a Grande Muralha era como uma estrada, até que eu fui lá e percebi que é um grande monte. Ela não é contínua”, diz Hadid. “A ideia das formas do Galaxy Soho vem disso.”

“Eu fui inspirada por viagens, não só pela China, mas também na Europa e na América Latina. Sou não só inspirada pelas paisagens, mas também pela história”, disse ela.

Apenas 20 anos atrás, Pequim era uma cidade com poucos edifícios de referência, embora aqueles que existissem fossem impressionantes e, em muitos casos, de renome mundial. Hoje, ícones modernos, como o Estádio Nacional e a Torre CCTV, viraram destaques arquitetônicos. Hadid planeja adicionar outros trabalhos à paisagem da China, inspirados na cultura do país e em suas viagens pelo mundo.

Antigos jardins chineses e a seda estão entre suas paixões. Nos próximos anos, os projetos de Hadid aparecerão não apenas nas principais metrópoles chinesas, mas também em locais menores como Chengdu, na província de Sichuan, Changsha, na província de Hunan, e Nanquim, na província de Jiangsu. Essas cidades estão investindo pesadamente em edifícios públicos, incluindo bibliotecas, museus e casas de ópera.

Em Chengdu, Hadid concebeu um centro de arte, que inclui um museu, centro de exposições, área de ensino e sala de conferências, bem como bares, lojas e restaurantes.

 

Zaha Hadid

 

Seu design aerodinâmico e suas formas yin e yang evocam símbolos tradicionais chineses. “É principalmente em matéria de edifícios culturais que essas cidades estão competindo umas com as outras. Elas são grandes, em termos de tamanho e população, se comparadas com as do Ocidente, e têm um desenvolvimento muito ambicioso”, diz.

Hadid acredita que projetos culturais serão benéficos para o desenvolvimento da arte na China.

“Isso é o que aconteceu na Alemanha e na França. Museus, casas de ópera e salas de concertos não estão apenas em Berlim ou Paris. Podemos encontrar edifícios interessantes em cidades diferentes e programas culturais não devem estar restritos a certas áreas”, diz ela.

Essa onipresença é evidente em projetos de Hadid na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia e em outros lugares.

Embora influenciada pela cultura chinesa, ela não limita seus projetos a um olhar especificamente chinês, a fim de atrair clientes.

“Não há necessidade de enfatizar elementos chineses. Quero dizer, eu não vou construir algo na forma de um dragão. O trabalho deve combinar com a arquitetura local”.

Xu Weiguo, um professor de arquitetura na Universidade de Tsinghua, disse que a função – em vez da forma – deve ser a essência da arquitetura. “Edifícios isolam as pessoas da natureza, por isso uma de suas funções mais importantes é conectar as pessoas com a natureza. Arquitetos devem se concentrar na função, em vez da imagem ou do significado cultural”, diz Xu.

Xu considera que o estilo de Hadid é resultado natural da combinação da função com outros elementos, por isso cria ambientes melhores para viver e trabalhar. Zhou Yufang, professor da Academia Central de Belas Artes de Pequim, disse que as cidades pequenas precisam de talento do exterior.

Embora as oportunidades abundem para arquitetos na China, os edifícios modernos são muito criticados.

A revista Time descreveu a torre da CCTV em Pequim, projetada por Rem Koolhaas, como uma “o espigão mais radicalmente re-imaginado do mundo”. Mas, na China, ele tem sido amplamente criticado, sendo que muitos o comparam a um par de calças.

O edifício Porta do Oriente, em Suzhou, foi apelidado de torre gêmea da CCTV, porque também parece um par de calças.

Para Hadid, a Torre da CCTV “é uma reconfiguração de uma torre. Também tem uma textura bonita. Eu não entendo por que as pessoas não gostam dela”.

O rápido desenvolvimento leva a comparações entre os edifícios históricos e modernos. Para Hadid, é importante preservar o antigo, mas também criar algo novo. Ela cita como exemplo Veneza.

“Veneza é uma cidade muito bonita. Ninguém quer construir novos prédios por lá. Tudo está bem preservado. Mas Veneza está morta. Não há vida. A população não está crescendo. É inimaginável demolir edifícios em Veneza, mas também significa que a cidade estagnou”, diz ela.

A ópera de Guangzhou

 

Hadid aprecia a ambição dos construtores chineses. Ela conhece Zhang Xin, CEO da Soho China, e admira seu desejo de quebrar os velhos moldes da arquitetura chinesa.

“Durante os períodos de rápido desenvolvimento, as cidades mudam e se tornam semelhantes. Há 100 anos, a China não tinha arranha-céus, mas agora muitas cidades têm. Cidades perdem muito de sua identidade original. Isso é o que se chama de progresso”, diz Hadid.

 

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China Daily é o maior jornal em inglês publicado na China, com uma circulação diária de 500 mil exemplares. A sede do jornal é em Pequim. No Ocidente, o China Daily é visto como uma janela da China para o mundo. Seu conteúdo reflete, essencialmente, as visões do governo chinês.