A aula de Lula ao não fugir para uma embaixada. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 10 de junho de 2019 às 22:25
Lula

Quando daquele fatídico 5 de abril de 2018 em que o então juiz federal Sérgio Moro decretou a prisão do ex-presidente Lula, o mundo político aguardou em estado de estupefação o que faria o maior líder popular da América Latina.

O então líder absoluto das pesquisas eleitorais seguiu para o lugar onde começou a sua história política e sindical: o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista.

Com prazo para se entregar estipulado até as 17 horas da sexta (6), jornais do mundo inteiro faziam suas coberturas esperando, sem saber, pelo que mais tarde provavelmente viria a ser a cena mais emblemática da história política desse país.

Inúmeros foram os políticos e lideranças a prestarem solidariedade a Lula naquele momento. E enquanto milhares de apoiadores cercavam o prédio, a tensão crescia à medida que o tempo passava.

Uma vez esgotado o prazo, a iminência de nos depararmos com o mais bem avaliado de todos os presidentes sendo levado para a prisão por policiais federais se tornava cada vez mais factível.

A essa altura já não eram poucos os que ressuscitaram a tese de que Lula deveria fugir para uma embaixada qualquer como exilado político.

Pessoas bem-intencionadas, outras nem tanto, viam nesse ato a única forma para impedir que a pior das injustiças fosse cometida: a de aprisionar um inocente.

O fato é que contra todos os temores que um homem já velho mais do que compreensivelmente poderia ter de ser levado para uma solitária, Lula, no dia 7 de abril de 2018, saiu carregado nos braços do povo para entregar-se aos seus carrascos.

Não tardou para que uma horda de moralistas com aparentes bolas de cristais à esquerda e à direita julgasse ter sido um erro monumental do ex-presidente ter se entregue à PF.

Para estes, Lula definitivamente deveria ter fugido e se submetido a uma outra forma de prisão. Seguramente ainda mais humilhante.

Ignorando a narrativa que a velha imprensa brasileira inapelavelmente iria criar acerca de sua fuga ser a confissão última de sua culpa, surgiram críticas de todas as formas e conteúdos, muitas maldosas até, sobre a decisão pessoal tomada.

Pois bem! Mais de um ano transcorrido, a obsessão do ex-presidente Lula em provar que foi vítima de uma enorme injustiça finalmente começa a se tornar realidade.

As conversas vazadas entre juiz e procuradores que provam inquestionavelmente a trama montada para tirá-lo da corrida presidencial e torna-lo um preso isolado e incomunicável com o mundo exterior, mostram que mais uma vez Lula estava certo na sua avaliação.

Não se pode minimizar o dano moral e a humilhação pela qual o ex-presidente passou, e ainda passa, encarcerado até hoje numa cela da Polícia Federal de Curitiba em função de um crime que em nenhum momento absolutamente ninguém conseguiu provar sua culpa.

Da mesma forma, é impossível medir o sofrimento que um homem e avô passou ao não poder ter um último contato com seu irmão e neto mortos de formas tão trágicas.

Mas, a despeito de todas as provações que sozinho foi capaz de suportar, a sua redenção encontra-se cada vez mais próxima.

Se à custa desse gigantesco escândalo que abalou as estruturas do poder judiciário nacional a justiça finalmente for feita, Lula sairá de sua cela muito em breve com a cabeça erguida exatamente como entrou.

Essa outra cena que está por vir, a de Lula saindo da PF carregado pelo povo da mesma maneira com que se entregou, jamais teria a força, o impacto e a simbologia se assim fosse dado em uma embaixada qualquer.

Apesar de todos os absurdos jurídicos que fomos obrigados a conviver, a grande lição que mais uma vez Lula nos deixa é a de que um homem inocente que ama o seu povo e o seu país jamais os abandonam em meio as lutas pelas quais acredita.

Lula, mais do que sua inocência, prova que aprendeu bem o que sua mãe pobre e retirante tanto lhe ensinou.

A de nunca baixar a cabeça.