A ausência de modéstia segundo Montesquieu. Por Camila Nogueira

Atualizado em 26 de janeiro de 2017 às 17:39
Montesquieu
Montesquieu

Em 1721, Montesquieu – um dos intelectuais que mais influenciaram os revolucionários franceses de 1789 – publicou um romance chamado Cartas Persas, que “vendeu tal como pão recém saído do forno”, segundo seus contemporâneos. Epistolar, o livro contêm uma série de reflexões sobre os mais diversos temas: amor, liberdade, religião, islamismo. As frases abaixo foram retiradas dessa obra prima.

Em seu romance Cartas Persas, o senhor alega que um dos piores defeitos que uma pessoa pode possuir é a falta de modéstia. Como assim, Monsieur?

Encontramos em todo lugar pessoas que não param de falar de si mesmas, cuja conversa é um espelho que apresenta, o tempo todo, uma impertinente figura. Além de não terem o menor interesse pelos outros, falam das menores coisas que lhes sucederam e esperam que o interesse pessoal que por elas sentem as engrandeça aos olhos de todos. Realmente não há nada pior do que a companhia de um egocêntrico.

O que define um egocêntrico?

Tudo fez, tudo viu, tudo disse, tudo pensou – constitui um modelo universal, uma fonte de exemplos que nunca seca, um tema inesgotável de comparação.

Para quem isso é mais prejudicial, para o próprio egocêntrico ou para o seu pobre interlocutor?

Para o ouvinte, que sente uma genuína vontade de se enforcar. Como falta luz ao elogio, quando este reflete para o mesmo lugar de onde procede!

O que podemos fazer para não agir dessa maneira?

Pode parecer contraditório, mas a vaidade é algo útil. Feliz quem é tão vaidoso que nunca elogia a si mesmo e que não compromete o próprio mérito com a arrogância alheia.

O que define a virtude?

A discrição. Conheci pessoas em quem era tão natural a virtude que mal se fazia perceber, e, assim, tais pessoas se consagravam ao dever sem necessidade de dobrar-se a ela, como que seguindo-o por instinto. Longe de se vangloriar de suas preciosas qualidades, parecia que sequer as notavam.