A ausência gritante de candidatos negros à prefeitura das capitais. Por Cidinha da Silva

Atualizado em 4 de outubro de 2016 às 13:57

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Uma mirada nas no pleito de 2016 permite a identificação de raríssimos negros. Todos homens, à exceção de Célia Sacramento (PPL), em Salvador.

A capital da Bahia, aliás, fazendo jus à sua imensa população negra, teve três candidatos negros: Fábio Nogueira (PSOL), Pastor Sargento Isidório (PDT) e a própria Célia Sacramento, ex-vice-prefeita. Viu-se também o oportunismo de ACM Neto, reeleito, que em dado momento da campanha definiu-se como “afro-descendente”.

Em Recife, um candidato negro chegou ao segundo turno, João Paulo (PT).  E paramos por aqui. Nenhum registro no Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte, capitais de milhares de eleitores negros.

Se sairmos das capitais para as grandes cidades, o quadro sofre poucas alterações.  Ainda em Pernambuco, na cidade de Olinda, a deputada federal Luciana Santos (PCdoB) e ex-prefeita em duas legislaturas chegou apenas ao 4º lugar. O deputado estadual Prof. Lupércio (SD), por sua vez, disputa o 2º turno da eleição.

Em Cariacica (ES), Juninho (PPS) chegou ao 2º turno.

No Maranhão, estado reconhecidamente negro, o PCdoB do governador Flávio Dino é o campeão de prefeitos eleitos no primeiro turno, são 46 cidades. Resta perguntar quantos desses prefeitos eleitos são negros e, mais ainda, se haverá alguma mulher negra entre eles.

O Executivo é instância de concentração substantiva de poder e quanto mais poder há nos espaços, mais os grupos discriminados estão distantes deles. Associe-se a isso o mecanismo racista de não fomentar e também impedir que as pessoas negras ultrapassem os limites internos, neste caso, dos partidos políticos, para chegar as esses lugares de poder.

A eleição de Julio Cezar (PSB) em Palmeira dos Índios, 4ª maior cidade de Alagoas, pode oferecer pistas sobre a trajetória dos negros que, eventualmente chegam à prefeitura.

Júlio Cezar é vereador desde 2012 e jornalista com forte atuação nos meios de comunicação da cidade. Considerando que Julio derrotou a poderosa articulação de Renan Calheiros, senador, e Renan Filho, governador, ambos do PMDB e Teotônio Vilela Filho (PSDB) em torno da adversária derrotada, com 67% dos votos válidos, a imprensa local gritou eufórica que “o filho da verdureira quebrou as correntes de oligarquias que comandavam o município alagoano de Palmeira dos Índios e se tornou prefeito”.

Fica a dúvida: se Júlio fosse um homem branco, também haveria referência a “correntes”? E o lugar de “filho de uma verdureira” teria tanta força? Lugar de quem supera grandes dificuldades e consegue pelo “mérito próprio” chegar a um lugar melhor.

A ênfase à vitória pessoal de um negro deixa de lado questões estruturais, o racismo estrutural, ele mesmo, produtor e mantenedor de correntes para os negros.