A batalha política do voto impresso não foi mal para Bolsonaro. Por Fernando Brito

Atualizado em 11 de agosto de 2021 às 9:40
Walter Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no palácio do Planalto

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Derrotados ontem, mesmo, só saíram os militares brasileiros, levados a “pagar um mico” homérico com seu desfile de tanques e ideias velhas de mais de meio século, do tempo em que expelir colunas de fumaça preta indicava a potência de dragões bélicos e não a obsolescência de geringonças para a guerra e para golpes.

Jair Bolsonaro não se importa nem um pouco em parecer saudosista; é isso mesmo o que quer: evocar a memória de um passado que não existiu, o da “felicidade” dos brasileiros nos tempos do regime militar.

Ironicamente, alegando estar defendendo o que a ditadura de seus “heróis” tirou dos brasileiros, o voto para presidente.

E o presidente também não liga em ter exposto as Forças Armadas, pois em relação a elas não tem senão o recalque do mando finalmente conquistado e a certeza que elas se alimentam de poder, soldo e arrogância, e não de profissionalização, capacidade e eficiência.

A batalha política, lamento informar, não foi mal para Bolsonaro, nem tanto por causa dos 229 votos que seu Cavalo de Troia recebeu, mas pelos 211 contrários, quase 100 a menos que os partidos que se opuseram a ele esperavam registrar no painel da Câmara.

Nem se fale em MDB e DEM, mas dos que assumiram posições claras e deveriam, por isso, ter poucas defecções.

Confiram: no PSDB, o voto foram 14 votos bolsonaristas; no PSD, 20; no PSB, 11; seis votos a favor no PDT e três no Cidadania. Quase 60 fotos que, se fossem coerentes, teriam baixado a votação da manobra governista para os 170 esperados e erguido para 270, como esperados, o muro do “não” a Bolsonaro.

Daqui a pouco começará a gritaria e não é difícil prever que o presidente dirá que, apesar de ter tido a maioria – o que, no seu discurso, vai virar “a vontade do povo” -, não conseguiu a marca necessária de 308 por conta das “pressões indevidas” do presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso.

E seguirá em sua agitação, usando os militares como alegorias exibidas como fiadoras de suas pretensões continuístas: tem os exercícios da semana que vem como palco e o Dia do Soldado, 25 de agosto, como motivo para uma manifestação de gala para seus apetites.

As instituições civis, que não soltam fumaça, parecem estar em pior estado que os deprimentes tanques do desfile de ontem. Nem soltam roncos ou fumaças: miam diante do aspirante a ditador.