A brutalidade fascista inútil de Doria na cracolândia feriu de morte sua imagem de “gestor” eficiente. Por Donato

Atualizado em 24 de maio de 2017 às 9:29

Antes de mais nada, peço ao leitor que faça a seguinte reflexão: o prefeito João Doria e a PM de Geraldo Alckmin atacariam uma balada de classe média-alta repleta de consumidores de drogas sintéticas e traficantes bem vestidos? Chegariam com bombas e tratores?

É duro ser pobre no Brasil.

Pelo terceiro dia seguido a investida de Doria na região conhecida como cracolândia espalhou terror, medo e violência. De forma atabalhoada, uma escavadeira apressada iniciou a operação 20 minutos antes do horário marcado e derrubou um pedaço de uma pensão que ainda estava habitada. Três pessoas se feriram.

Doria estava próximo do local, assim que soube do ocorrido tratou de fugir o mais rápido possível. Não pediu desculpas, nada declarou. Marcou uma coletiva para às 16:00 e não apareceu.

Sobrou para o secretário de Serviços e Obras, Marcos Penido, explicar o acontecido. Piorou tudo. “Nós fomos ao estacionamento e verificamos que ali só tinha carros, mas nós não demos conta de que havia uma entrada clandestina para o fundo onde dava acesso e essas pessoas estavam.” Era melhor ter feito como Doria e ficar calado, já que ninguém na prefeitura parece afeito a pedir perdão.

A operação de Doria – que no primeiro dia decretou que a cracolândia havia ‘acabado’ – já dura 3 dias. O prefeito está mais para um George Bush que em 2001 declarou vitória americana na primeira semana após invadir o Afeganistão. As tropas estão batalhando lá até hoje, 16 anos depois.

O prefeito irá insistir numa prática que nunca funcionou. Em gestão nenhuma. Sua ação hoje não conta com o apoio de nenhuma entidade que atua na questão seja no combate, seja no tratamento do problema.

Mas Doria é turrão e ontem promoveu uma verdadeira réplica da ‘Noite dos Cristais’ no centro da cidade (a famosa noite de novembro de 1938, marcada pela destruição de casas comerciais e residências de judeus em toda a Alemanha e Áustria).

A operação paulistana é idêntica. Comerciantes e moradores não tiveram tempo de nada. Alguns donos de bares e mercearias afirmaram terem tido menos de duas horas para tirar tudo. Portas foram lacradas com blocos de cimento. Logo depois as máquinas estavam tratorando.

E o que demolir casas tem a ver com o problema de tráfico e consumo de drogas? “A cracolândia é composta por pessoas doentes que necesitam de tratamento médico, emprego e recuperação. Não de tiro, porrada e bomba. Já se fala em em demolição de prédios e construção de outros, sempre visando os interesses de um mercado especulativo”, disse a Promotora de Justiça Cinthia Gonçalves Pereira. Respondido?

Apenas para efeito comparativo, para a implantação do programa Braços Abertos de Fernando Haddad, os usuários em situação de rua da região não tiveram seus barracos demolidos enquanto não estivessem cadastrados e de posse de um quarto nas pensões próximas.

João Doria extinguiu o programa e bastaram 4 meses de sua moderna ‘gestão’ para a cracolândia tomar a dimensão que estava.

A partir daí é o roteiro que estamos cansados de conhecer. A Polícia Militar repete os métodos de sempre: ataca primeiro para obter o efeito manada, a ignição da violência, para então culpar os atacados, criar uma imagem ruim perante a opiniao publica. Faz isso com manifestantes, com secundaristas, com sem-terra, com sem-teto. Moderno, não?

João Doria Visita