A “caridade” de Gisele Bündchen com Tom Brady não passa de vaidade. Por Nathalí

Atualizado em 23 de fevereiro de 2023 às 13:12
Tom Brady e Gisele Bündchen – Foto: Reprodução

Gisele Bundchen e o marido Tom Brady criaram juntos, em 2019, uma instituição de caridade – talvez como forma de saírem como bonzinhos na mídia, talvez para aliviar a culpa cristã – nunca saberemos.

O que sabemos – está no New York Post – é que o valor das doações corresponde a apenas 0,000008 por cento do patrimônio bilionário do casal.

Virou moda fazer caridade pra ficar bem na fita. Caridade, no Brasil, não passa de truque de marketing. Quando é exposta, então, fica ainda mais nítido: a intenção não é ajudar aos outros, é ser visto como bom samaritano.

Alguns dirão: melhor do que nada.

De fato.

Mas isso não anula o fato de que ser bilionário em um país miserável é obsceno, grotesco, nojento. Ostentar bilhões enquanto uma parte considerável do país passa fome supera o desumano.

Não romantizo a pobreza jamais – mas mantenho em mim a certeza de que não deveriam existir bilionários. Ideia comunista demais? Paciência.

Sabe quanto Gisele ganha por sua simples presença no camarote da Brahma? 2 milhões de dólares. Isso é mais do que 50 mil dólares por minuto. Pra aparecer, sorrir e acenar. Mais de 50 mil dólares por minuto em um país em que pessoas moram na rua. Em que a própria festa de carnaval trata de mostrar a dimensão da desigualdade social do país.

Em 2018, a mesma instituição criada por Gisele e Brady doou míseros 300 dólares a um grupo ambientalista da Costa Rica. 300 fucking dólares. Uma gorjeta pra gente bilionária. Um jeito terrível de sentir-se menos podre por ter uma mesa farta enquanto seus irmãos morrem de fome.

É por isso que eles preferem caridade mas odeiam justiça social: na caridade, qualquer valor te torna um bom cristão, ajudador das minorias, preocupado com o próximo.

Na justiça social, não. Em um país com justiça social, aliás, a caridade é obsoleta.

Não adianta passar o ano inteiro renegando políticas afirmativas para os pobres e doar a eles uma cesta de natal no final do ano. Isso é ainda mais obsceno do que acumular mais dinheiro do que se pode gastar.

Rico adora caridade porque doa 300 dólares e consegue dormir bem à noite. “Minha parte eu fiz”, eles dizem. Mas se o pobre começa a viajar de avião, o rico se sente ofendido. Se sente menor por dividir um assento com um miserável.

A elite brasileira não gosta de justiça social porque deseja que os pobres permaneçam pobres e servis, mas trata de doar uma cesta básica pra conseguirem se sentir um pouquinho melhores – e é por isso que sempre que fazem caridade, fazem questão de publicizar isso.

Caridade é anônima. Quando publicizada, não passa de vaidade.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.