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A carraspana moral de Janot em Gilmar veio em boa hora. Por Kiko Nogueira

Rodrigo Janot, como qualquer brasileiro decente, parece ter se cansado definitivamente de Gilmar Mendes.

Seu discurso na sexta, 10, um desabafo feito com o fígado, tem endereço certo, e é o ministro do STF. Chama-lo de “indireta” é uma ofensa.

“Nunca terei transgressores preferidos, como bem demonstra o leque sortido de autoridades investigadas e processadas por minha iniciativa perante a Suprema Corte. Da esquerda à direita, do anônimo às mais poderosas autoridades, ninguém, ninguém mesmo, estará acima da lei, no que depender do Ministério Público”, disse ele no final de um encontro de procuradores eleitorais.

“Figuras de expressão nacional, que deveriam guardar imparcialidade e manter decoro, tentam disseminar a ideia estapafúrdia de que o Procurador-Geral da República teria vazado informações sigilosas para, vejam o absurdo, pressionar o Supremo Tribunal Federal e obrigá-lo a decidir em tal ou qual sentido, como se isso fosse verdadeiramente possível. Ainda há juízes em Berlim, é preciso avisar a essas pessoas”.

Essa expressão tem origem numa história, que não se sabe se verdadeira, muito usada quando o estado de direito é ameaçado pelo mais forte. Um camponês prussiano, no século XVIII, é coagido a derrubar seu moinho na vizinhança do palácio real. O próprio rei vai pressioná-lo. Ele resiste dizendo ao monarca aquela frase, ou seja, que confiava na isenção da Justiça.

Gilmar Mendes, em mais uma conversa absolutamente indefensável com jornalistas, havia criticado o vazamento dos pedidos de prisão de Cunha, Jucá, Sarney e Renan.

É o mesmo GM que aplaudiu quando o Jornal Nacional e a torcida do Flamengo tiveram acesso aos grampos de Lula.

“Isso tem ocorrido e precisa ter cuidado. Porque isso é abuso de autoridade claro”, falou.

Desde que assumiu uma cadeira no Supremo, indicado por Fernando Henrique Cardoso, Gilmar Mendes se transformou, nas palavras do jurista Dalmo Dallari, numa “figura lamentável”, alguém que “degrada” a imagem da corte. O papel dele protegendo Aécio já extrapolou o limite de ética, da moral e mesmo da inteligência.

Essa treta promete.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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