A censura à Tuiuti, a intervenção federal e o ódio de Temer ao Rio e ao Carnaval. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 18 de fevereiro de 2018 às 11:24
O “Vampirão” que “emissários” de Michel tentaram tirar da festa (Foto Mídia Ninja)

É difícil dissociar a açodada decisão de intervir no Rio de Janeiro da humilhação sofrida por Michel Temer no Carnaval.

A admissão do estrago causado pela Tuiuti à imagem de um governante patético, absolutamente desprezado pela população, veio na forma da censura.

De acordo com a direção da agremiação, emissários da presidência da República pediram à Liga Independente das Escolas de Samba, Liesa, que impedisse a participação do “Vampirão Neoliberalista” no desfile das campeãs, no sábado, dia 17.

Ele acabou se apresentando, mas depois de uma concessão: tirou a faixa presidencial.

Entrevistado pela Mídia Ninja pouco antes de entrar na Sapucaí, o professor de História Léo Moraes, que interpreta o personagem, foi evasivo.

Primeiro, afirmou que estava aguardando que lhe trouxessem o adereço. Depois de algumas conversas com colegas, ao pé do ouvido, afirmou que o “perdeu”.

Chegou a negar que estivesse retratando Temer e que sua fantasia  “representa um sistema”.

No final, Moraes foi orientado a retirar a maquiagem rapidamente, ali mesmo na dispersão.

A motivação do decreto de Temer é eleitoreira. Ponto. 

Mas não se deve subestimar o ressentimento, a raiva, a malevolência de Michel com a cidade.

“As cenas do Carnaval revelaram uma agressividade muito grande e uma desorganização social e até moral muito acentuada. As pessoas lá não têm mais limites”, falou ao amigo Reinaldo Azevedo.

Referia-se à “violência”. Mas não só. Michel odeia o Rio.

No sábado, dia seguinte à assinatura do decreto, interveio na festa, naquelas pessoas que não têm mais limites.

A história é antiga. Os sambistas incomodavam Getúlio Vargas no Estado Novo.

Em 1969, o enredo “Heróis da Liberdade”, da Império Serrano, foi censurado.

Segundo a pesquisadora Raquel Valença, os compositores Silas de Oliveira, Mano Décio e Manuel Ferreira foram chamados a depor no Dops.

O regime militar queria saber se os versos “Ao longe soldados e tambores / Alunos e professores / Acompanhados de clarim” faziam referência aos protestos estudantis.

A palavra “revolução” foi substituída por “evolução”. Em 1970, as escolas passaram a ser forçadas a enviar os croquis de fantasias e alegorias para aprovação prévia.

Noves fora tudo, Temer conseguiu, com sua tentativa de se livrar do “Vampirão” no tapetão, mais uma pecha: a de vagabundo liberticida, ruim da cabeça e doente do pé.

Léo Moraes tem a maquiagem retirada na dispersão (Foto Ricardo Rangel/O Globo)