A censura agora é às claras. Por Eric Nepomuceno

Atualizado em 16 de julho de 2021 às 22:48
Mário Frias e Jair Bolsonaro (Foto: MARCOS CORRÊA/PR)

Originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA

Por Eric Nepomuceno

Mário Frias, o canastrinho (nada dele, exceto a estupidez, merece o aumentativo) que ocupa a secretaria especial de Cultura do ministério do Turismo, pouco a pouco vai superando em tudo seus antecessores. Lembrando o que fez Roberto Alvim e a nulidade patética que foi Regina Duarte, convenhamos que a dessa figurinha inexpressiva é uma façanha e tanto.

Em tudo harmoniza perfeitamente com o governo que é, de longe, o mais grotesco e devastador de toda a história da República.

Seu racismo explícito corresponde perfeitamente ao exercido por Sérgio Camargo, o presidente da Fundação Palmares que se insurge contra seus próprios ancestrais que padeceram o horror da escravidão.

Além disso, temos um secretário de Cultura cuja ignorância olímpica o expõe a constrangimentos inéditos, como ir à Bienal de Veneza e não ter ideia de quem era a homenageada, Lina Bo Bardi, com obras que contribuíram para engrandecer a arte brasileira contemporânea.

Como qualquer aspecto que se olhe no Brasil de Jair Messias, as artes e a cultura também sofrem um processo de devastação absoluta. Todos, absolutamente todos os mecanismos e estruturas que desde a retomada da democracia foram criados para incentivar o setor estão sendo destroçados.

Da mesma forma que o governo militarizado de Jair Messias espalhou militares por postos antes ocupados por médicos e funcionários de longa trajetória do ministério da Saúde, na secretaria de Cultura foram espalhados primatas e fanáticos religiosos pertencentes a essas lucrativas empresas batizadas de igreja.

Resultado: um exemplo perfeito de censura veio no veto brutal ao pedido de acolhimento pela Lei Rouanet do Festival de Jazz do Capão, no interior da Bahia, num parecer recheado de citações religiosas.

Outro exemplo: a ANCINE indefere um projeto de filme sobre a trajetória de Fernando Henrique Cardoso, que aliás já tinha sido aprovado, com a justificativa de que “dá margem a inegável promoção da imagem pessoal do ex-presidente da república homenageado no documentário, com notório aproveitamento político, às custas dos cofres públicos”.

Isso, num governo cujo presidente usa grossos punhados retirados dos cofres públicos para se promover de maneira incessante buscando um notório aproveitamento político e eleitoral.

A decisão foi tomada por dois diretores-substitutos, Edilásio Barra, mais conhecido pela alcunha de “Tutuca”, e Mauro Gonçalves de Souza. Os dois disputam a quarta e última vaga aberta na direção colegiada da ANCINE.

“Tutuca” tem uma trajetória obscura em projetos e programas de TV que rondam o ridículo, mas um grande e sólido mérito nesses tempos de treva: se autonomeou pastor.

Aliás, criou uma dessas empresas que lucram com a fé dos pobres, a Igreja Continental do Amor de Jesus, mas até nisso foi um fiasco: o negócio fechou e hoje ele se declara “pastor independente”.

Já Mauro tem qualidades que agradam à família presidencial: foi assessor de um deputado ligado às milícias.

Contra o coronavirus já existem vacinas. Contra o tenebroso Bolsonavirus que devasta o país a cada minuto de cada hora de cada dia, ainda não.

Até quando?