A censura escandalosa da CBF contra jornalistas da ESPN

Atualizado em 9 de abril de 2025 às 13:41
Jornalistas da ESPN no programa “Linha de Passe”

O futebol brasileiro vive, mais uma vez, um escândalo que revela o quanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está longe da modernização e transparência que promete em discursos. Na terça-feira (8), seis jornalistas do canal ESPN foram afastados de suas funções após discutirem de forma crítica, em um episódio do programa “Linha de Passe”, as graves denúncias contra a gestão do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, reveladas pela revista piauí.

Foram suspensos Dimas Coppede, Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares — profissionais reconhecidos por seu compromisso com o jornalismo esportivo. A decisão veio após a direção da CBF pressionar os executivos da ESPN, que, em meio a uma negociação comercial com a entidade pela transmissão da Série B do Campeonato Brasileiro, optou por acatar a cobrança e mudar a escala dos programas e transmissões.

Embora os jornalistas devam ser reintegrados, o recado foi claro: criticar a CBF tem custo, e o presidente Ednaldo Rodrigues não tolera questionamentos públicos. O episódio escancara o retorno de uma censura velada, em que a interferência de uma entidade esportiva sobre uma empresa de comunicação afronta diretamente a liberdade de imprensa.

Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Foto: Divulgação

O desconforto de Ednaldo não é sem motivo. A reportagem da piauí, assinada por Allan de Abreu, revelou um retrato alarmante da sua administração. Durante a Copa do Mundo do Catar, a CBF bancou o luxo de 49 convidados sem vínculo oficial com a entidade. Entre eles, familiares do presidente e figuras políticas como os parlamentares José Rocha e Ciro Nogueira, todos com direito a passagens de primeira classe e estadias em hotéis cinco estrelas.

Além disso, Ednaldo passou nove meses hospedado no Grand Hyatt, na Barra da Tijuca, com todas as despesas pagas pela CBF. Mesmo após se mudar para um condomínio de alto padrão, continuou utilizando a estrutura do hotel. Enquanto isso, os investimentos estruturais no futebol foram deixados de lado. Árbitros passaram a ser treinados por videoconferência e mais de cem deles foram afastados no último Brasileirão por erros graves.

A lista de desmandos se estende: aumento exorbitante no salário dos presidentes das federações — de R$ 50 mil para R$ 215 mil — e o pagamento de um absurdo “décimo sexto salário”. Tudo isso em uma entidade que, apesar da receita superior a R$ 1 bilhão em 2023, acumula R$ 2,6 milhões em dívidas protestadas em cartório.

Reeleito com cem por cento dos votos das federações e clubes, Ednaldo Rodrigues personifica a perpetuação de um sistema viciado, onde o futebol serve a interesses particulares e políticos. E agora, como mostrou a censura à ESPN, tenta também controlar o que se pode ou não dizer sobre seu império.

Enquanto isso, a Seleção Brasileira segue sem rumo, os clubes afundam em dívidas e os torcedores se afastam. O que resta saber é: até quando o futebol brasileiro vai tolerar essa combinação de censura, desperdício e decadência moral?