A China em cinco minutos

Atualizado em 24 de junho de 2013 às 15:22

Um filme caseiro mostra a alma dos chineses.

A China como ela é na essência
A China como ela é na essência

Tantas bobagens são ditas e escritas pela China, em geral advindas da tenebrosa máquina de propaganda americana.

E então um filme caseiro de cinco minutos é capaz de desmontar todas as falácias.

É um vídeo em que um filho grava os últimos anos de vida de seu pai. Ao ser colocado na internet, o filme virou um fenômeno na China.

Nele está a essência da soberba cultura confuciana chinesa – sobretudo a devoção com que os filhos cuidam de seus pais na velhice.

Muitas vezes, diz o autor, tudo que nossos pais desejam é ouvir a nossa voz. Se estão distantes, um telefonema é o bastante.

Não é um tema sobre o qual eu tenha facilidade em escrever. A morte de meu pai, em 1982, me devastou irremediavelmente. Me tornou um eterno órfão revoltado.

E eu carrego a foto de minha mãe sorrindo para mim na tela de meu celular. Ninguém sorriu para mim com tanto amor quanto ela, nunca.

No colo de mamãe, perto de meu pai, ao lado de meus irmãos mais velhos, Mari e Zé
No colo de mamãe, perto de meu pai, ao lado de meus irmãos mais velhos, Mari e Zé

Fiquei particularmente tocado com a cena em que o filho leva o pai, em seus últimos dias, para realizar o sonho de ver o mar.

O velho parece uma criança ao ver a imensidão azul. Vai molhar os pés como se estivesse na infância.

Sei o que é isso.

Papai era de Cravinhos, no interior de São Paulo, e só foi ver o mar depois de moço. Foi uma paixão tardia e que jamais o abandonou.

Lembro seu ritual na praia.

Nadava alguns minutos lateralmente, e era uma das raras ocasiões em que estava sem óculos, os óculos pretos e grossos de míope de verdade que eu fiz questão de colocar nele no caixão porque sentia falta deles em seu rosto na despedida.

Depois papai fazia pequenas acrobacias na areia, resquício de sua paixão de menino por circo. Posso vê-lo, agora, tantos anos depois, plantando uma bananeira.

Não gravei, como o filho chinês, mas as imagens para mim são tão nítidas como se estivesse vendo o filme agora, e todos os dias.

Talvez eu tenha me fascinado com Confúcio e sua doutrina porque ela fala tanto em como devemos cuidar de nossos pais.

Os meus, bem, os meus são uma lembrança doída, doída, e parcialmente mitigada porque a compartilho e divido com meus irmãos, Mari, Zé, Kiko e Kika, nós, os pobres Nogueiras,  órfãos até o último dia de papai e de mamãe.