
A Heineken inaugurou em Passos, no sul de Minas Gerais, uma nova cervejaria de R$ 2,5 bilhões, aposta estratégica para manter a liderança no mercado premium, onde a rival AmBev voltou a crescer. A unidade, a 14ª do grupo no país, vai produzir exclusivamente Heineken e Amstel, marcas puro malte e pilares da operação brasileira. Juntas, ampliam em 10% a capacidade instalada da companhia, hoje no maior mercado mundial das duas cervejas.
O avanço acontece num segmento que se transformou. Em 10 anos, as cervejas premium saltaram de 4% para 24% do consumo nacional. A Heineken atribui a si a criação desse nicho desde sua chegada ao país, em 2011. Com capacidade inicial de 5 milhões de hectolitros e possibilidade de triplicar de tamanho, a planta de Passos já nasce preparada para ser a maior fábrica da marca no mundo.
A escolha da cidade envolveu logística e, sobretudo, água. O Rio Grande oferece uma fonte com pH e composição mineral considerados ideais, reduzindo custos de tratamento e garantindo sabor mais estável.
A disponibilidade de grandes áreas industriais também contou, especialmente porque parte da fermentação da Heineken ocorre em tanques horizontais, que exigem mais espaço. Cada lote produzido no Brasil ainda é enviado à Holanda para validação do padrão global.
A expansão ocorre em meio ao avanço da AmBev no segmento premium. A gigante reportou crescimento de 15% no último trimestre e disse ter recuperado mais de 50% dessa fatia com marcas como Stella Artois, Corona, Spaten e Original.

A Heineken minimiza, dizendo que a rival aumentou participação reduzindo o tamanho de embalagens; a AmBev rebate afirmando que seu portfólio cresce de forma consistente há 18 trimestres.
A disputa acontece num cenário de consumo pressionado: o mercado total de cerveja em 2025 está cerca de 10% abaixo do ano passado, afetado pelo clima mais frio e pela renda encolhida das famílias. Mesmo assim, o investimento bilionário da Heineken reforça a estratégia de longo prazo e se soma a outros aportes que totalizam mais de R$ 6 bilhões desde 2019.
Em Passos, o impacto econômico é imediato. A construção gerou 2.200 empregos e outros 11 mil foram criados indiretamente. A operação emprega 350 pessoas, 70% da região. A empresa também investiu em formação profissional em parceria com instituições locais, o que já caracteriza a cidade como um novo polo industrial em Minas Gerais.
A concorrência entre Heineken e AmBev também se espalha para o Cade. A holandesa contesta há três anos acordos de exclusividade da rival em bares, restaurantes e eventos. O órgão antitruste limitou a 15% do mercado o alcance desses contratos. A disputa continua viva e, com a entrada da nova fábrica, Passos ganha papel central nessa guerra comercial que movimenta o setor de bebidas no Brasil.