“A classe média acredita que o sistema seja contra ela”, diz professor de Harvard na UnB, explicando Bolsonaro

Atualizado em 24 de abril de 2019 às 21:20
Yascha Mounk (Foto: Reprodução/Youtube)

POR ROSELI GARCIA

A receita para as oposições ganharem as próximas eleições e evitarem um risco à democracia no Brasil é a união.

A tese é defendida pelo cientista político alemão de origem polonesa e professor de Harvard, Yascha Mounk, que chegou nesta quarta, dia 24, ao país e fez uma palestra na Universidade de Brasília (UnB).

Não que as diferenças entre os partidos não sejam importantes. São, mas seus estudos apontam que governos populistas, que ameaçam o sistema democrático, normalmente são longos.

Mounk demonstrou essa situação de populismo longevo com a Hungria. “Não acredito mais nas eleições da Hungria, que desde 2010 está sob o domínio de populistas. A Polônia tem a última oportunidade nas eleições deste ano”.

O cientista político apontou o perigo do crescimento rápido do populismo no mundo. “Os governos dos países mais populosos como EUA, Indonésia e Brasil são populistas e ameaçam a democracia”, afirmou.

A sugestão de Mounk para evitar que esses períodos sejam longos é uma reação tática dos partidos.

Ele acredita que no Brasil pode ser criado outro partido, a despeito dos 30 existentes, que não tenha integrantes ligados à corrupção, e considera que esse foi o motivo que levou a população à descrença em seus líderes.

“Então é preciso criar outro partido, se engajar. Criar forças novas que funcionem de forma limpa e capazes de fazer mudanças”, afirma.

Estudioso sobre crise democrática e que está no Brasil para lançamento de seu livro “O povo contra a democracia”, Yascha Mounk fez uma relação do Brasil de Jair Bolsonaro com a Itália de Berlusconi, grande empresário que chegou ao poder após a operação Mãos Limpas e que se envolveu com a corrupção.

A chegada do populismo ao poder no Brasil, segundo Mounk, tem a ver com o medo em relação ao futuro, pois o país registrou desenvolvimento econômico na última década. “A classe média acredita que o sistema seja contra ela, evitando seu progresso”, diz.

Entre os motivos para a ascensão populista com tendências autoritárias no mundo, Yascha Mounk inclui a imigração, o acesso a direitos de minorias e as redes sociais.

Os processos migratórios mudaram muito nos últimos anos. “Um parlamentar hoje pode ser um imigrante, a minha chefe pode ser uma mulher”, exemplificou, sobre situações que incomodam uma parcela da população, que não sentem seus interesses representados.

Na definição de Mounk, o populismo de direita ou de esquerda que ameaça a democracia ocorre quando viola os direitos das pessoas, quando não se tem liberdade de expressão, de religião, quando homossexuais não são respeitados ou as mulheres não têm seus direitos garantidos.

“É normal a mídia criticar o presidente. O problema acontece quando o presidente considera a mídia inimiga, quando a pessoa tem medo de expressar sua opinião política. Esse é o perigo”, declara.

Ele enquadra Hungria, Venezuela e Turquia no mesmo populismo autoritário que ameaça a democracia.