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A classe média colhe o prejuízo de seus preconceitos. Por Fernando Brito

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Esqueça os princípios de humanismo, de solidariedade.

Deixe de lado a consciência de que todos somos seres humanos, com direitos essenciais e aspirações que nos unem como nação.

Não ligue para como lhe aperta o coração sair à rua sem ver corpos humanos estendidos na calçada, protegendo-se como podem – ou nem podem – do frio que está chegando. Desconsidere o medo e a tristeza de não poder andar 100 metros numa avenida movimentada sem que alguém venha lhe pedir algum dinheiro “para comer, moço”.

Abandone os conceitos de que temos em comum um país, uma vida coletiva e fuja da sabedoria do Tom Jobim de que “é impossível ser feliz sozinho”.

Em resumo: torne-se um monstro insensível e, ainda assim, veja que prejuízo trouxe a você e a todos a ideia de que “eu quero o meu e danem-se os outros” que se apossou deste país desde que se soltaram os demônios de uma classe média – moralista e imoral – que acha que é preciso gastar menos com os pobres para que nos advenha a prosperidade.

Os dados de uma pesquisa feita com base nas informações do IBGE, que reproduzo acima, ainda não dão toda a ideia do quanto dano ela colheu por ter se deixado entrar num transe que, com muita dificuldade, precisou de um morticínio inédito em nossa história para que percebêssemos a loucura a que isso nos levou.

A perda de renda que provocou o descenso social de perto de 10% das famílias brasileiras representa um número maior do que todo o crescimento populacional de 2011 para cá, o que varia poder dizer que todo brasileiro (e muitos mais) nascidos nos últimos dez anos empobreceram.

E muito mais com Bolsonaro: o economista Rodrigo Zeidan, hoje, na Folha, demonstra que “o PIB brasileiro fechará 2021 em R$ 7,63 trilhões, um total menor que os R$ 7,62 trilhões, em valores atualizados, de quando Paulo Guedes assumiu a cadeira de superministro.”.

Isso se as previsões, sempre otimistas, do mercado se concretizarem.

Não é só filosófica, ética ou ideológica a ideia de que o Brasil, com seu tamanho e seu potencial, possa desenvolver-se sem um projeto não-excludente de país.

É estupidez, até sob o ponto de vista dos ganhos econômicos.

É como a vacina da Covid: se não se procurar a imunidade geral contra a miséria, se não buscarmos condições dignas para todos, a epidemia de atraso e pobreza não tem jeito.

Fernando Brito

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