A confusão dos nadadores americanos no Rio revela as vantagens de ser branco. Por Sacramento

Atualizado em 21 de agosto de 2016 às 8:03
Lochte
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Há um ponto em que o Brasil e os Estados Unidos combinam muito bem. Nos dois países, ser branco é um privilégio capaz de atenuar as consequências das atitudes mais reprováveis.

O comunicado oficial do Comitê Rio 2016 minimizando a culpa dos nadadores norte-americanos que vandalizaram um posto de combustível e depois denunciaram um assalto fictício está aí para mostrar a triste similaridade entre as duas nações.

“Precisamos entender que essas crianças vieram aqui para se divertir. Vamos deixá-los um pouco em paz. Às vezes, você toma decisões que depois se arrepende. Eles foram se divertir, cometeram um erro, e a vida continua”, disse o coordenador de comunicação do comitê, Mário de Andrada.

“Eles competiram sob uma pressão gigantesca. Vamos dar um tempo para esses garotos. Às vezes você faz coisas das quais se arrepende depois. Eles se divertiram, eles cometeram um erro. A vida segue”.

Vejam como a carência de melanina aliada ao status olímpico opera milagres: transforma marmanjos embriagados com idades entre 20 e 32 anos em crianças e o vandalismo seguido do delito de falsa comunicação de crime em um efeito colateral das pressões da competição.

Ainda que o Comitê Olímpico dos Estados Unidos tenha condenado o comportamento dos atletas e pelo menos um deles, James Feigen, corra risco de ter que pagar R$ 150 mil de multa pela falsa comunicação de crime, as palavras amorosas do Comitê Organizador Rio 2016 deixam o incidente sério com ares de mera travessura de rebeldes sem causa.

A opinião dos organizadores dos jogos lembra um dos piores momentos da Rachel Sheherazade, quando ela foi leniente com as aprontações de Justin Bieber em sua turnê no país e extremamente cruel com um adolescente negro que fora espancado e amarrado a um poste depois de uma tentativa frustrada de roubo.

Impossível imaginar uma nota semelhante à dedicada Ryan Lochte e seus asseclas se a confusão envolvesse rapazes negros, pobres e sem currículo repleto de medalhas.

Essa cordialidade nas críticas também aparece na terra natal dos atletas. O grupo está sofrendo reprimendas públicas e prestando satisfações à imprensa, mas nada parecido com o massacre sofrido pela ginasta Gabby Douglas.

A medalhista de ouro virou alvo do tribunal das redes sociais por deixar de colocar a mão no peito durante a execução do hino nacional e pela ausência de sorrisos nas apresentações das suas companheiras de equipe.

São duas histórias que ilustram como os Estados Unidos e o Brasil caminham lado a lado em um dos seus piores aspectos, apesar do abismo entre o número de medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos e outros indicadores mais interessantes.