A confusão entre bolsonaristas para eleger o “culpado” por tarifa de Trump

Atualizado em 11 de julho de 2025 às 9:19
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante live ao lados dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos. Foto: Reprodução

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros gerou confusão entre os próprios bolsonaristas, que divergem sobre quem seria o “responsável” pela retaliação. Enquanto os filhos de Jair Bolsonaro (PL) culpam o ministro Alexandre de Moraes, aliados políticos apontam o governo Lula (PT) como o causador da crise diplomática.

O presidente Lula reagiu às acusações durante entrevista à Record na quinta-feira (10) e devolveu a responsabilidade à família Bolsonaro: “Foi o filho dele [Eduardo Bolsonaro] que foi lá fazer a cabeça do Trump”, afirmou.

Membros da gestão petista avaliam que o episódio pode virar um “tiro no pé” dos próprios bolsonaristas, já que o aumento “desproporcional” das tarifas gerou mais apoio ao governo do que críticas.

Os Bolsonaros

Na quarta-feira (10), o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou nas redes sociais um agradecimento direto a Trump, associando o tarifaço ao que chama de “tarifa-Moraes”.

“Lula contribuiu, mas ele não é o fator determinante nessa sanção tarifária. Moraes foi o causador e o motivador de quase tudo aquilo que Trump colocou na carta dele”, afirmou o parlamentar à Revista Oeste, de extrema-direita.

O “bananinha” também defendeu que o Congresso sinalize com uma anistia para que os Estados Unidos aceitem abrir diálogo: “A gente pode começar fazendo uma anistia ampla, geral e irrestrita. Tá aí uma oportunidade para começar esse diálogo”.

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também responsabilizou o STF. Em entrevista à CNN, disse que o Brasil deveria aceitar as condições impostas por Trump e que o Supremo precisa reduzir a “pressão” sobre o Congresso para permitir o avanço de uma possível anistia ao grupo ligado ao ex-presidente Bolsonaro.

Jair Bolsonaro só se manifestou 24 horas após o anúncio. Em nota publicada no X, declarou “respeito e admiração” pelo governo americano e culpou a atual política externa do Brasil: “O afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade, o Estado de Direito e os valores que sempre sustentaram nossa relação com o mundo livre”.

PL e deputados responsabilizam Lula

Nas redes sociais, deputados bolsonaristas e o perfil oficial do PL atribuíram a culpa das tarifas ao presidente Lula, com frases como “a culpa é de Lula” e “tarifa do Lula”. O líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), fez 11 publicações sobre o tema desde quarta-feira, todas atacando Lula — sem mencionar o STF.

Outros nomes da base bolsonarista, como os deputados Gustavo Gayer (PL-GO), Marco Feliciano (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Carlos Jordy (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG) e o pastor Silas Malafaia, também culparam diretamente o presidente petista.

Governadores de direita culpam Lula, mas divergem entre si

Entre os governadores da direita, o posicionamento também foi dividido. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO) e Romeu Zema (Novo-MG), todos cotados para a disputa presidencial de 2026, culparam Lula pela crise.

Tarcísio acusou o presidente de priorizar ideologia sobre a economia: “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. Em nota, afirmou que o governo petista “agrediu o maior investidor direto no Brasil” ao criticar as tarifas em um comunicado do Brics.

Ronaldo Caiado defendeu a criação de uma comissão parlamentar para retomar o diálogo com os EUA e disse que Lula “declarou uma guerra contra o Congresso Nacional” ao atacar Trump, “presidente de país que sempre foi nosso aliado”.

Romeu Zema, por sua vez, inicialmente culpou Lula e o STF, acusando-os de ignorar “a boa diplomacia” e promover “perseguições”. No entanto, no dia seguinte, recuou parcialmente e afirmou nas redes sociais que a decisão de Trump foi “errada e injusta”.