A consagração do goleiro Bruno é a cara do Brasil de Bolsonaro. Por Nathalí

Atualizado em 27 de julho de 2020 às 17:05
Bruno faz selfies: um heroi nacional

O goleiro Bruno voltou aos gramados, às selfies e às mordomias que o futebol proporciona.

Como se jamais tivesse sido condenado por matar a mãe de seu filho e atirar o corpo aos cachorros pra não precisar pagar pensão alimentícia, ele cai novamente nas graças dos torcedores e não se fala mais nisso.

Em coletiva de imprensa, a assessoria não permitiu que o passado de Bruno – marcado por misoginia e assassinato – fosse questionado.

“Tenho certeza de que a partir do momento em que as pessoas passarem a conhecer o Bruno mais de perto, ver o ser humano que é o Bruno, tenho certeza de que pode mudar a opinião de muita gente”, disse ele.

Bem, eu passo.

Esta é, aliás, uma ideia tão perigosa quanto comum quando falamos de violência sistêmica contra a mulher: a ideia de que é possível conciliar o respeito social ao comportamento doméstico sórdido e violento.

“Ele é um bom homem, mas tem uns problemas com Maria da Penha”; “Ele bate na mulher, mas é uma boa pessoa, honesto e de família.” “Ele matou e esquartejou uma mulher, mas, lá no fundo, é um ser humano excelente”

Senta lá, Cláudia.

O corriqueiro tratamento indulgente dado a homens misóginos, agressores e assassinos, mesmo quando condenados, é violento com todas as mulheres, porque reafirma que nossas vidas não valem nada, e ceifá-las sequer abala a moral de um homem privilegiado em uma sociedade que não só naturaliza, mas festeja e congratula a misoginia.

O Brasil ultraconservador, machista e moralmente sórdido que posa para selfies com o goleiro Bruno é certamente o mesmo que culpa vítimas de estupro, naturaliza o turismo sexual e se sente representado pela família Bolsonaro.

Felizmente, entretanto, este não é o único Brasil possível: estamos vivas e atentas. E, por nossas mortas, nem um minuto de silêncio.