A coragem do reitor que quis entregar um título de doutor honoris causa a Lula. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 28 de julho de 2017 às 8:05
Honoris causa inveja

 

Luiz Inácio Lula da Silva é um dos brasileiros mais premiados mundo afora. São inúmeros os títulos, medalhas, prêmios e honrarias recebidos pelo ex-presidente após terminado o seu segundo mandato em 31 de dezembro de 2010.

Eternamente cobrado por não possuir um diploma universitário, Lula lidera atualmente o ranking brasileiro dos ex-presidentes vivos com mais títulos de Doutor Honoris Causa.

Outorgados por universidades do mundo inteiro a pessoas eminentes que contribuíram sobremaneira no desenvolvimento de determinada área, o título, que em português quer dizer “por causa da honra”, é a mais alta distinção honorífica que pode ser concedida por uma instituição de ensino.

Universidades como a de Coimbra, em Portugal, Salamanca, na Espanha, o Instituto de Estudos Políticos de Paris (ligado à Sorbonne) na França e Nacional Três de Febrero, na Argentina são algumas que já agraciaram o estadista brasileiro com esse título.

No Brasil, pelo menos outras 9 universidades também já concederam o mesmo título à Lula.

Aqui um dado curioso precisa ser mencionado.

Na comparação com o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro campeão de Honoris Causa, a educação de ensino superior público do Brasil simplesmente despreza o sociólogo.

O seu único título dessa natureza concedido no país veio justamente de uma universidade particular, a Cândido Mendes, do Rio de Janeiro.

A discrepância no reconhecimento dispersado pelas universidades públicas brasileiras ao ex-professor universitário e ao ex-torneiro mecânico atende diretamente ao grau do compromisso de cada um com o ensino público enquanto ocuparam o mais alto cargo da República brasileira.

Responsável pelo maior avanço no ensino público já visto no Brasil, Lula até hoje é reverenciado por aqueles que testemunharam de perto os seus esforços pela democratização da educação brasileira. FHC, que fez exatamente o contrário, não passa de uma terrível lembrança.

Pois bem. Devidamente contextualizado o leitor, não deveria ser motivo de nenhum assombro o fato de que mais uma universidade pública do país viesse a outorgar mais um título Doutor Honoris Causa à Lula.

Mas eis que na contramão do bom senso, o fato é que o Reitor da Universidade Estadual de Alagoas, Jairo José Campos da Costa, foi ameaçado de morte porque entregará a honraria ao ex-presidente.

Aprovado ainda em 2012 por unanimidade pelo Conselho Superior da instituição, a mais nova homenagem causou um estado de cólera em algum desequilibrado mental que anonimamente (assim procedem os covardes) ligou para o escritório da reitoria e afirmou que o reitor seria um homem morto um dia após concedesse o título ao ex-presidente.

Conheço o professor Jairo pessoalmente. Fomos contemporâneos no tempo de faculdade. Atesto o seu respeito e dedicação pela educação e pela democracia. Não me surpreende em nada a sua coragem de, mesmo ameaçado, prosseguir firmemente com a cerimônia.

Uma vez tomadas as devidas providências legais, (foi lavrado um Boletim de Ocorrência na delegacia civil e solicitado o rastreamento da ligação) esperamos que o clima de ódio e intolerância que se abateu sobre o país não cause mais outro dissabor ao reitor, à universidade e ao agraciado.

É preciso salientarmos que casos como esse não podem ser entendidos como fatos isolados. Não só é de extrema gravidade como é recorrente. Existe de fato uma horda de imbecilizados dispostos a irem às últimas consequências para imporem suas “verdades” tão decadentes.

O aprendizado que fica desse triste episódio é do quanto uma enorme parcela da sociedade ainda precisa ser educada, e mais, civilizada, para poder entender a importância da pluralidade de ideias e o real valor da democracia.

Para além de tudo disso, aos que defendem a paz, a legalidade, o respeito e a democracia, não existe outra opção senão seguir em frente.

Afinal de contas, enquanto os cães ladram, Lula continua recebendo suas honrarias.