A coroação do pateta Charles III e a obsessão da mídia com uma família rica, inútil e disfuncional

Atualizado em 6 de maio de 2023 às 12:08
Charles III, o desocupado, e a patroa Camilla

A coroação de Charles III, uma figura patética que aparentemente começa a trabalhar agora, aos 74 anos, está destacada em toda a mídia brasileira.

A Globo passa a cerimônia ao vivo. A manchete do G1 é um primor: “Coroados, rei Charles III e rainha Camilla acenam para o público”. É a versão vira-latas para “Caetano estaciona o carro no Leblon”.

Temos uma relação estranha, para usar um eufemismo, com a família real britânica. O que restou de um império onde o sol nunca se punha é um bando disfuncional e bilionário que vive de dinheiro público. Diana foi esmagada por essa turma, trocada pelo Tampax do marido, infeliz até a morte.

Leio que o advogado Sávio Valei, de 22 anos, natural de Araras, no interior de São Paulo, tem uma coleção de mais de 2 mil itens da Casa de Windsor, obtida por meio de colecionadores estrangeiros. São fotos, livros, artigos de jornais e até bonecos de membros.

A respeito dessa sandice, republico o alerta que o escritor britânico Christopher Hitchens fez a Kate Middleton, mulher de William, o primogênito de Charles, sobre a roubada em que ela estava se metendo.

Segundo Hitchens, Charles era “um homem taciturno com orelhas de morcego e sem queixo, prematuramente envelhecido e com um gosto aterrador para consortes”:

Um monarca hereditário, observou Thomas Paine, é uma proposição tão absurda quanto um médico ou matemático hereditário. Mas tente apontar isso quando todos estão aparentemente molhados de entusiasmo com o bolo e os vestidos da futura mãe do absurdo constitucional. Você não parece estar expressando o bom senso.

Você parece um velho ranheta. Suponho que essa deve ser a “mágica” monárquica de que tanto ouvimos: por alguma alquimia mística, os imperativos de criação de uma dinastia tornam-se material de romance, até mesmo de “conto de fadas”. (…)

A monarquia britânica não depende inteiramente do glamour, como o longo reinado da rainha Elizabeth II continua a demonstrar. Sua inabalável obediência e confiabilidade conferiram algo além de charme à instituição, associando-a ao estoicismo e a uma certa integridade.

O advogado Sávio Valei posa com sua coleção de tralhas da família real britânica

O republicanismo é infinitamente mais difundido do que quando ela foi coroada, mas é muito raro ouvir a própria Soberana sendo criticada.

Não tenho certeza se ela merece essa imunidade. A rainha tomou duas decisões importantes bem cedo em seu reinado, nenhuma das quais foi imposta a ela. Ela se recusou a permitir que sua irmã mais nova, Margaret, se casasse com o homem que amava e escolhera, e deixou que seu marido autoritário se encarregasse da educação de seu filho mais velho.

A primeira decisão foi tomada para apaziguar os líderes mais conservadores da Igreja da Inglaterra (uma igreja da qual ela é, absurdamente, a chefe), que não pôde aprovar o casamento de Margaret com um homem divorciado. O segundo foi tomado por razões menos claras. (…)

O príncipe Charles, submetido a um regime de violentos padres em internatos penitenciais, acabou sendo convencido a encarar um casamento calamitoso com alguém que não amava ou respeitava, e agora é o sujeito mal-humorado, careca e licencioso de hoje. Ele também aparentemente encontrou um contentamento tardio com a ex-esposa de um oficial.

Juntos, Margaret e Charles deram o tom à enxurrada de descendentes com título de nobreza, desleixados, irresponsáveis, cujos nomes, e muito menos feitos, são quase impossíveis de acompanhar. Existem muitos deles! E as coisas sempre têm que ser encomendadas para eles fazerem.

Para o príncipe William, pelo menos, foi decidido no dia de seu nascimento o que ele deveria fazer: encontrar uma esposa apresentável, ser pai de um herdeiro (de preferência um macho), e manter o show na estrada.

Por mais um exercício dessa notória “mágica”, agora é duplamente importante que ele faça essa coisa simples, porque somente seu suposto carisma pode salvar o país do que os monarquistas temem: o rei Carlos III. (Monarquia, você vê, é uma doença hereditária que só pode ser curada por surtos recentes de si mesma.) (…)

Envelhecer sem trabalho de verdade exceto esperar pela morte de mamãe não é vida.

Alguns britânicos afirmam que “amam” a casa de Hanover. Esse amor assume a forma macabra de exigir um sacrifício humano regular, pelo qual pessoas não excepcionais são condenadas a levar existências totalmente artificiais e tensas, e então punidas ou humilhadas quando elas desmoronam. (…)